São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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Bispos da França apóiam camisinha

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

A Comissão Social do Episcopado Francês admitiu que o uso do preservativo é "necessário" para evitar a transmissão da Aids.
É a primeira vez que um órgão oficial da Igreja Católica francesa admite que o uso do preservativo "é necessário".
A posição dos bispos foi explicada em um livro de 235 páginas chamado "Aids - A Sociedade em Questão". O livro reúne também depoimentos de pesquisadores, doentes e homossexuais.
O papa João Paulo 2º é contrário ao uso e à propaganda do preservativo. O documento dos bispos não cita ou discute as posições do Vaticano sobre o assunto.
O monsenhor Jean-Michel de Falco, ex-porta-voz do episcopado, disse à televisão que não existe nem ao menos "uma hipotética oposição entre o episcopado francês e a Santa Sé".
"Desafio qualquer um a encontrar uma única citação da palavra preservativo em tudo o que o papa disse sobre a Aids", disse.
Apesar de "necessária", os bispos, no entanto, observam que a "prevenção individual" não dá conta de todas as "dificuldades sociais" colocadas pela doença.
Segundo o relatório, o uso do preservativo "não vai acabar com todos os riscos, pois (o uso) é uma atitude que considera apenas as consequências, sem examinar as causas e consequências da expansão da Aids".
O bispo de Poitiers, Albert Rouet, autor do relatório, enfatizou a opção da igreja em educar os jovens para o amor, na percepção de que ele é a "a partilha de duas liberdades", e para a opção da fidelidade e castidade.
"O uso do preservativo é pois compreensível nos casos em que há a necessidade de evitar os riscos de uma atividade sexual já incorporada à personalidade."
Religiosos católicos e mesmo órgãos do episcopado francês vêm adotando desde 1988 posições mais flexíveis em relação ao assunto (veja texto abaixo).
Neste ano, o cardeal Albert Décourtray, arcebispo de Lyon, disse que, em relação à morte, o preservativo era um "mal menor".
Em 1989, o Conselho Permanente dos Bispos declarou que "existiam meios profiláticos contra a doença", mas que era "contestável reduzir a prevenção a este único meio".
Em 1993, a Comissão do Episcopado para Questões Éticas emitiu uma nota dizendo que "talvez seja momentaneamente necessário explicar aos interessados que utilizar preservativo constitui uma primeira etapa da responsabilização (sobre as relações sexuais)".

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