São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Conheça os deputados que querem manter privilégio

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um pedido para retirar da reforma da Previdência qualquer mudança no sistema de aposentadoria dos parlamentares foi assinado por 224 deputados na terça-feira e formalizado ontem à direção da Câmara.
Desse total, pelo menos 192 (85,7%) pertencem a partidos que integram a base de apoio ao governo Fernando Henrique Cardoso no Congresso. Há 9 oposicionistas.
A Folha não conseguiu identificar 23 das 240 assinaturas apresentadas formalmente (havia 16 repetidas).
Eles pedem para retirar da última versão do projeto de reforma o artigo 15, que adia a discussão da aposentadoria dos parlamentares para o ano que vem.
Sem o artigo, o atual sistema pode ser mantido intacto.
As assinaturas foram recolhidas em meio à rebelião dos deputados contra o fim do IPC (Instituto de Previdência dos Congressistas).
O deputado Nilson Gibson (PSB-PE) é o autor do chamado "destaque supressivo" à possibilidade futura de mudança do sistema de aposentadoria dos parlamentares, que dá direito a pensão após oito anos de mandato com a ajuda de recursos públicos.
Para apresentar o pedido à direção da Câmara e garantir que ele entre na pauta de votação da reforma, depois do Carnaval, o deputado precisava de apenas 52 assinaturas -172 a menos do que acabou obtendo.
A lista inclui até a assinatura do relator da reforma, deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM). Ontem, ele afirmou ter sido enganado.
"O Nilson fez malandragem comigo e agiu de má-fé", disse o relator. "O requerimento que eu assinei era para outra coisa."
O objetivo do requerimento de Gibson está claro no cabeçalho da página, poucos centímetros acima da assinatura de Euler Ribeiro.
Após ter retirado a extinção do IPC do texto da reforma da Previdência, o relator afirmou que mudou de idéia e aderiu ao movimento encabeçado pelo presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA): "Acho que a imagem do Congresso fica abalada".
Procurado pela Folha, o deputado Nilson Gibson se recusou a falar sobre o requerimento. "Isso é uma coisa minha", disse. "Diga que eu penso o contrário do José Genoino", resumiu.
José Genoino (PT-SP) avalia que os parlamentares perderão a "legitimidade" para votar a reforma da Previdência se mantiverem intocado o sistema de privilégios no Congresso. "Os deputados vão ser jogados no fio da navalha."
Nenhum líder assinou a lista. Mas lá estão as assinaturas de liberais, como Delfim Netto (PPB-SP) e o líder do PL, Valdemar Costa Neto (SP), e até do relator da reforma administrativa, deputado Moreira Franco (PMDB-RJ).
Embora o resultado prático da proposta de Gibson seja evitar mudanças no sistema de aposentadoria dos parlamentares, muitos dos que assinaram o requerimento dizem que só querem discutir melhor o assunto.
Seguindo as atuais regras de aposentadoria, Gibson terá, ao final do atual mandato, em 1998, aposentadoria equivalente hoje a R$ 5.200.

Texto Anterior: "Banana do Boris" preocupa as lideranças
Próximo Texto: VEJA QUEM APOIOU A MANUTENÇÃO DO IPC
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.