São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 1996
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Bresser pensou e falou

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - O ministro da Administração, Luiz Carlos Bresser Pereira, declarou, na segunda-feira, que não pretende negociar a reforma administrativa com a CUT.
Famoso por suas declarações polêmicas, Bresser suscitou interpretações diversas para sua afirmação. "Ele falou sem pensar", era o comentário corrente em Brasília.
Ontem, entretanto, o ministro dirimiu a dúvida para esta coluna: "Pensei, refleti antecipadamente sobre o assunto. Sabia que iriam me perguntar e respondi exatamente o que penso".
E completou: "Não adianta eu dizer que vou negociar sobre a estabilidade quando eu sei que não vou ceder. Acho importante que as pessoas sejam francas e honestas".
Bresser quer acabar com a estabilidade dos funcionários públicos. A CUT é contra. Não há o que negociar sobre o assunto, na opinião do ministro.
Há, pelo menos, duas interpretações da franqueza de Bresser. Primeiro, que é louvável sua sinceridade. Segundo, que é gigantesca a sua inabilidade para captar momentos políticos.
Fernando Henrique Cardoso cansou de telefonar nas últimas semanas para o presidente da CUT, Vicentinho. Sem contar as idas do cutista ao Palácio do Planalto. Ontem, inclusive.
FHC está dando um sinal. Quer entendimento amplo com a sociedade. Quando Bresser fala que não há o que negociar sobre um determinado ponto da reforma administrativa, caminha em direção contrária à do presidente.
"Estou disposto a ouvir sobre qualquer outra questão, exceto a estabilidade, que a CUT possa propor como emenda ao projeto", diz Bresser, contemporizando e dizendo considerar Vicentinho um "ótimo" líder sindical.
Vicentinho, que tomou gosto pela negociação, aproveita para fazer uma proposta para o ministro:
"Eu acho que o funcionário que não cumpre o seu papel deve ser demitido. Mas tenho medo do arbítrio. A análise do desempenho tem de ser feita por uma comissão com participação ativa dos trabalhadores".
Com a palavra, Bresser.

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