São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Profissionalismo fará diferença em Atlanta

JAIR PICERNI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Às vésperas da estréia da seleção brasileira no Pré-Olímpico da Argentina, volta à minha memória a história da conquista da medalha de prata nos Jogos de 84 -com tudo o que representou em termos de sucesso e de fracasso.
Pesando prós e contras, fico com a certeza: a boa infra-estrutura e o tratamento profissional dados a este grupo podem representar a diferença entre a prata que conquistamos em Los Angeles e o ouro que, espero, vamos trazer de Atlanta.
Em 84, assumi como técnico da seleção em março, com o objetivo de preparar a equipe para a competição marcada para julho. A vaga na Olimpíada já havia sido garantida por Cléber Camerino, mas isso não diminuiu nossos problemas.
O maior de todos era o descaso com que a disputa olímpica era vista no Brasil.
Como reflexo do desinteresse de todos -imprensa, torcida, dirigentes, jogadores-, a CBF também considerava a competição como de segunda linha.
O técnico não podia simplesmente escolher os melhores jogadores para levar para os EUA, mas aqueles que não fariam tanta falta aos clubes.
Com o consentimento da confederação, grandes equipes, como Corinthians, Flamengo e Fluminense, se negaram a ceder atletas para a Olimpíada, por estarem disputando o Campeonato Brasileiro.
Só 25 dias antes do embarque convocamos o grupo, com dez jogadores do Inter-RS. Não por acaso. A equipe tinha sido desclassificada do Brasileiro e, por isso mesmo, serviu de base para a seleção.
Se contamos com boas acomodações e não tivemos problemas na viagem, foi graças ao empenhado general Erar Vasconcelos, então diretor da CBF.
Apesar disso, conseguimos nos dar bem em Los Angeles. Na semifinal, batemos a Itália do técnico Bearzot, o que foi visto como revanche da derrota para a equipe principal italiana, dirigida pelo mesmo treinador na Copa de 82.
Na final, porém, perdemos por 2 a 0 para a França e seus dois anos de preparação. Voltamos com a prata. Essa conquista inédita foi suficiente para abrir os olhos do Brasil para a Olimpíada e, já em 88, a seleção foi para Seul em melhores condições -com maior tempo de preparação e uma convocação as limitações.
Tudo isso para dizer que o grupo de jovens hoje liderados por Zagallo tem uma chance sem igual de chegar ao ouro.
É com satisfação que vejo o país todo sintonizado na caminhada a Atlanta, a seleção olímpica merecendo a devida importância e, mais importante, o técnico podendo contar com o que há de melhor no Brasil hoje.
Claro que não será uma tarefa fácil. O Pré-Olímpico já representa um bom desafio, pois só há duas vagas em jogo e o Brasil vai disputá-las com países de tradição, como Argentina, Uruguai e Colômbia. Mas o grupo é talentoso, o técnico sabe o que está fazendo e -agora sim- teremos uma verdadeira "corrente pra frente" da nação a empurrar a seleção.

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