São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Mostra paralela de filmes gay rouba atenção no Festival de Berlim

LEON CAKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

As sessões do Panorama, mostra de filmes do Festival de Berlim com temática gay, vivem sempre lotadas e muitas vezes com mais atrações do que a programação oficial da competição.
Uma das maiores curiosidades do Panorama é o filme restaurado russo "Bye, Bye, América", deixado inacabado em 1951 pelo renomado Aleksander Dovshenko e nunca exibido. Hoje o filme poderá ser visto como uma jóia kitsch precursora da guerra fria, do apogeu do stalinismo e por seu ingênuo discurso antiamericano.
Outra curiosidade com verniz de antologia: "Lumière e Companhia", de Sarah Moon, onde 39 diretores convidados (Theo Angelopoulos, John Boorman, Yousef Chahine, Patrice Leconte, Claude Lelouch etc.) são entrevistados e convidados a rodar um curta de 52 segundos usando a mesma câmera originalmente inventada há 100 anos pelos irmãos Lumière.
O sentido da vida e busca divina fica por conta do francês "As Novidades de Deus" (Des Nouvelles du Bon Dieu), de Didier le Pêcheur, com Maria de Medeiros e Marie Trintignant. "Nervous Energy", do inglês Jean Stewart, volta o sofrimento da Aids para o companheiro de um homem contaminado. O mesmo tema se repete no também dramático "It's My Party", do americano Randal Kleiser, já exibido em Sundance.
As sessões gay do Panorama terão mais agressividade com os filmes alemães. Matthias Glasner apresenta "Sexy Sadie", a vida atribulada de um jovem que tem poucos dias para seus acertos de conta. "Aids = Morte", de Claus Constantin e Thees Klahn documenta as condições de vida de vítimas da Aids. "Hustler White", do canadense Bruce LeBruce, pretende percorrer os abismos e os undergrounds da sexualidade. E o satírico Rosa von Praunheim apresenta "Neurósia - 50 Anos de Perversão", mais um filme-cabaré inspirado na mesma escola de cinema precário lançado nos anos 70 por Andy Warhol em Nova York.
"The Watermelon Woman", da americana Cheryl Dunye, coloca a questão do "politicamente correto" numa relação lésbica, entre uma balcolista de videolocadora e sua cliente preferencial.
O único filme brasileiro do festival é o curta "Fragmentos da Vida", de José Medina, rodado em 1929 e apresentado como curiosidade latino-americana da fase do cinema mudo. O Festival de Berlim vangloriava-se de ter ontem 25 nominações ao Oscar entre oito filmes da sua programação.

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