São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Presidente procura uma "saída honrosa"

NEWTON CARLOS

Embora o presidente Ernesto Samper, da Colômbia, tenha dito a 22 de janeiro que não renunciará, fontes palacianas garantem que assessores já negociam uma "saída honrosa" para ele.
A partir daquele dia, quando Samper recebeu duro golpe, a declaração do ex-ministro Fernando Botero de que ele sabia da entrada de contribuições de narcotraficantes, as acusações diretas e aparentemente irrefutáveis têm crescido.
Botero está preso desde agosto do ano passado e decidiu abrir o bico, com medo de tornar-se bode expiatório, depois que comissão especial do Congresso absolveu Samper de ligações com a droga por falta de "provas conclusivas".
Mas o próprio presidente da comissão é suspeito do mesmo tipo de ligações e uma senadora, Maria Izquierdo, do partido de Samper, admitiu ter recebido "narcocheques" com o conhecimento dele.
Políticos liberais de proa, como o ex-presidente Cesar Gaviria, firmaram documento anti-Samper com pretensões a "grande cruzada" contra a corrupção e pelo fortalecimento do sistema judiciário, enquanto Jaime Arias, dirigente do Partido Conservador, de oposição, falou em riscos de golpe militar se o presidente não cair fora.
O general Ricardo Cienfuegos renunciou a um cargo que ocupava negando-se a participar de "governo desonesto" e as Forças Armadas, embora sem poder político direto, são influentes no país.
Com a posse de provas acumuladas pela procuradoria-geral, o Congresso deve tomar o rumo do impeachment, mas 60% dos colombianos não têm a menor confiança nele e há um caldeirão de interesses fervendo.
Samper negociaria uma espécie de anistia (nem prisão ou processo judicial) em caso de afastamento inevitável, "saída honrosa" que interessa a muitos parlamentares igualmente acusados de envolvimento com o narcotráfico. De modo indireto, eles também seriam anistiados.

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