São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Sem ajuda, população busca corpos

FERNANDA DA ESCÓSSIA
RONI LIMA

FERNANDA DA ESCÓSSIA; RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Sem a ajuda do Corpo de Bombeiros, moradores da Cidade de Deus, em Jacarepaguá (zona oeste), continuavam a procurar os corpos de pessoas mortas em decorrência do temporal que atingiu a área esta semana.
Os números dos mortos são conflitantes. Para a Associação de Moradores da Comunidade Novo Horizonte, Estelina Vieira de Carvalho, 57, morreram 38 pessoas -23 corpos já achados e 15 desaparecidos.
Os bombeiros contabilizam 12 mortos no local, com possibilidade de novas vítimas. O vice-governador, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, disse que o Corpo de Bombeiros está fazendo buscas no local.
Segundo ele, o trabalho de buscas não será encerrado enquanto houver desaparecidos. A presidente da associação de moradores disse que os bombeiros ajudaram até anteontem.
Durante o dia de ontem, segundo ela, eles só apareceram quando foram acionados por moradores que, pela manhã, acharam mais dois corpos, em meio à lama que cobre o local.
"Os próprios moradores é que começaram a procurar suas coisas e, de repente, esbarraram com os corpos", disse, reclamando do abandono das autoridades municipais e estaduais.
Na favela Novo Horizonte, moradores ainda choravam a morte de parentes e amigos. "A minha irmã foi embora na correnteza. Só deu tempo de tirar meus filhos e minha mulher", lamentava o biscateiro Sérgio da Rocha Adelaide, 27.
Um plástico preto foi pendurado por moradores em uma viela da Cidade de Deus que dá para a área mais atingida, como sinal de luto. O local é um aglomerado de barracos junto a um riacho.
A Cidade de Deus simbolizava o lado mais dramático do bairro, mas a chuva também causou estragos em vários outros pontos de Jacarepaguá, como em áreas de classe média.
Moradores e garis da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) continuavam ontem a tentar retirar a lama e detritos que se acumularam em ruas, casas e entradas de prédios do bairro.

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