São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Classe

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

Em meados da década de 80, Ron Dennis e John Barnard encabeçavam um grupo de executivos que tinha um objetivo: fazer a McLaren criar um carro McLaren.
A tentativa uniu em uma espécie de consórcio a própria escuderia, a TAG e a Porsche. Criou-se um carro vencedor e Lauda e Prost abocanharam três campeonatos consecutivos.
A filosofia do negócio era ter o controle total sobre o bólido, ou seja, transformar o fornecedor, mais do que em um parceiro, em um agente submisso.
O desejo, porém, ia além. A McLaren queria se transformar em um time completo. Responsável tanto pelo chassi, quanto pelo motor. Queria ser uma Ferrari.
É claro que era muita pretensão. Dennis teve que trocar a ambição de ser Enzo pelos títulos proporcionados por Senna e pela Honda.
Por mais dinheiro que tenha, nunca um time conseguirá igualar a mítica ferrarista e uma lista de espera de anos para seus esportivos de passeio.
Surge, então, o paradoxo: tanta tradição, por diversos motivos, afugentaram os títulos.
Para acabar com a sina, a Ferrari, mais propriamente a Fiat, resolveu gastar e montou um time de estrelas. Mas a equipe só se completou no final do ano passado, quando o passe milionário de Michael Schumacher foi adquirido.
Nesta semana, o extrato desse time titular posou para a foto oficial. Schumacher, um inédito motor V10 e a última criação daquele mesmo Barnard, o F-310.
Renegando sua criatura anterior, o bico tubarão -algo que virou norma na F-1 atual-, o projetista apresentou um desenho aclamado como revolucionário.
De fato, o novo modelo surpreendeu. A começar pelo bico já apelidado de "concorde", alusão ao monumental jato francês.
A nova proteção do cockpit, obrigatória a partir desta temporada, foi integrada à parte posterior do chassi graças a um desenho fluido, orgânico até.
E, apesar da camuflagem, deu para perceber uma traseira incrivelmente baixa. Possível graças ao novo motor, mais compacto, à nova caixa de câmbio transversal e, possivelmente, à utilização de novos materiais -algo que Barnard testou em segredo em 95.
Se vai andar? Ainda não dá para saber. O último desenho revolucionário da F-1 foi um embuste: o McLaren de asa suplementar.
O da Ferrari pode até não funcionar, só que tem classe. Algo que não se compra.
Notas
E já que o assunto é desenho, cuidado com o que está sendo mostrado nesta pré-temporada. Tem muita gente escondendo o leite. Com as mudanças de regulamento, muitas soluções só aparecerão na estréia em Melbourne, no dia 10 de março.
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A FIA fez as contas e anunciou, ontem, que a audiência acumulada da F-1 em 1995 foi de 45 bilhões de telespectadores. E fez questão de comparar com a Copa do Mundo dos EUA, que acumulou audiência de 32 bilhões em 94.
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Também segundo a FIA, 201 países no mundo receberam as imagens da categoria. A comparação, desta vez, foi com a ONU, que congrega "só" 185 nações.
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Bem na semana do Carnaval, a F-1 realizará aquele que deve ser o principal teste da pré-temporada. Quase todo mundo estará no balneário português, inclusive o alemão e seu novo brinquedo.
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O tal Spring Training da Indy vai mudar em 97. Serão quatro dias, dois em oval e dois em circuito misto. Para evitar que o pessoal faça como neste ano, quando muitos desistiram de correr no misto para não alterar a configuração dos carros.

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