São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996
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Infame

Como se já não bastasse a defesa escandalosa e imoral das aposentadorias privilegiadas para parlamentares, o deputado Nilson Gibson ainda saiu-se com ameaças contra a imprensa. O parlamentar parece crer que o problema não está nas absurdas vantagens de que gozam ele e seus colegas à custa do Tesouro Nacional, mas no fato de que tal situação tenha vindo a público.
O Instituto de Previdência dos Congressistas (IPC) é uma das maiores provas do escárnio com que certos políticos tratam a coisa pública. E, note-se, é um mal que se espalhou pelas Assembléias Legislativas de vários Estados.
Se o deputado não tem escrúpulos de defender tamanhos abusos, que tenha pelo menos a dignidade de fazê-lo abertamente. Atacar os que divulgaram o fato -e, com toda a razão, fizeram críticas veementes- apenas reforça a impressão de que, mais do que argumentos (de resto, inexistentes) o congressista contava com um relativo anonimato para promover a manutenção de seus privilégios.
Um dia depois do pedido patético de que a Câmara processasse o âncora do TJ Brasil, Boris Casoy, por ter dado uma "banana" para os deputados que se agarram vergonhosamente a privilégios, Nilson Gibson chegou a tomar o bloco de anotações de uma repórter da Folha, devolvendo-o depois.
Em meio a críticas aos deputados que depois de assinarem a lista de apoio ao IPC escreveram à imprensa declarando-se favoráveis a sua extinção, Gibson afirmou, referindo-se à imprensa, que "vocês vão ver, eu sou o relator da Lei de Imprensa e vou lascar vocês".
Quanto a ser relator da Lei de Imprensa, Nilson Gibson mentiu, a menos que exista um conluio, pois tal relator ainda não foi designado, segundo informou o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Roberto Magalhães. Por mais inexpressiva que seja a figura de Nilson Gibson, é inadmissível que um deputado faça ameaças contra a liberdade de imprensa para defender um infame privilégio.

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