São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 1996
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Livro dá lições de feminismo e de história

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Sonhos de Transgressão" ganha e perde com o fato de a história ser narrada por uma menina de uns 8 ou 9 anos. Sua admiração com a própria vida é a mesma do leitor (principalmente, se for um ocidental). O que cria empatia e alguns momentos poéticos de ingenuidade desconcertante.
Mas ao tentar "mastigar" as lições feministas que recebe das mulheres mais velhas, a narrativa é às vezes didática demais. A cada capítulo, a narradora reafirma a idéia de que não importam as fronteiras exteriores, desde que sua fantasia seja forte o suficiente para criar um mundo diferente.
É uma boa idéia e sobretudo muito feminina. Mas a fronteira (para repetir a expressão cara à autora) entre a ingenuidade mágica e a tolice é tênue, muito tênue.
Uma frase resume "a educação de Fátima": "Mas, desde então, procurar a fronteira tornou-se a ocupação de minha vida. E me dá a maior aflição todas as vezes que não consigo situar a linha geométrica que organiza a minha impotência". Vivendo numa casa onde certos cômodos já são um limite bastante preciso (há salas reservadas aos homens, por exemplo) e com um porteiro 24 horas de plantão, o que torna a calçada em frente quase um outro país, não é de se admirar que "fronteiras" virem uma obsessão.
O livro se desenvolve junto com a personagem. Através das conversas que tem com a mãe, as avós, tias e primas, a menina vai elaborando e expondo seus "conceitos sobre a vida". Eles se referem sobretudo à condição feminina, às coisas que uma mulher deve aprender ao longo de sua vida.
Para o leitor ocidental, há todo um universo a ser descoberto. O livro retrata o Marrocos durante a Segunda Guerra Mundial e sob ocupação francesa. Comentários como o de que os americanos têm os ombros muito maiores do que os franceses podem dar a medida do olhar estrangeiro a que ficamos expostos.

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