São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 1996
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Computador tem que evoluir no xadrez

ANDRÉ FONTENELLE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ainda não foi desta vez. Mas tudo indica que está próximo o dia em que a máquina se tornará imbatível no xadrez.
O campeão mundial Garry Kasparov derrotou, com três vitórias contra uma e dois empates, o programa "Deep Blue" (Azul Profundo), em uma série de seis partidas encerrada na semana passada, na Filadélfia (EUA).
O problema consiste na única vitória do computador. A menos que Kasparov tenha se deixado derrotar, para promover o confronto e valorizar seu triunfo, trata-se de uma data histórica para o xadrez -a primeira vitória de um computador sobre um campeão mundial, em condições normais de jogo.
É possível que Kasparov estivesse ainda sob efeito da última caipirinha tomada durante sua passagem pelo Rio, ou abalado com mais uma derrota do seu Vasco. Mas isso não tira o mérito do computador (ou o de seus programadores), já que, para bater um campeão mundial, não basta jogar corretamente: é preciso tomar a iniciativa.
O fato é que Kasparov se recuperou amplamente e venceu o confronto com facilidade, o que mostra que os programas de computador ainda têm que evoluir. Mas, pelo ritmo com que progridem, é uma questão de tempo para que se tornem invencíveis.
Kasparov é adepto desta última teoria. Claro, tem que defender a categoria. Mas a primeira hipótese é mais provável.
Há, ainda, uma perspectiva mais aterradora: sendo o xadrez jogo puramente matemático, é possível que, um dia, o computador consiga "resolvê-lo": ou seja, descobrir os melhores lances para cada lado, a partida perfeita.
Assim como é possível ensinar uma máquina a não perder nunca o jogo-da-velha, talvez um dia um computador encontre o algoritmo do xadrez, a sequência de lances imbatível.
Como o xadrez é infinitamente mais intrincado que o jogo-da-velha, esse dia ainda está distante. Mas, se chegar, o que será dos campeões de xadrez e de seus confrontos milionários? Que belo enigma nos criou o inventor do xadrez.
*
A húngara Zsuzsa Polgar caminha sem dificuldade para a conquista do título mundial feminino, contra a chinesa Xie Jun. Essa vitória consagra o trabalho do pai das três irmãs Polgar, Laszlo, autor de uma teoria curiosa.
Segundo ele, é possível adestrar uma criança para se tornar "genial" em uma especialidade qualquer. Laszlo escolheu o xadrez justamente por ser um jogo matemático e fez das filhas (teria tido três para que a amostragem fosse significativa) suas cobaias.
Mas o melhor modelo de sua tese é Judit. A jovem já é a décima colocada do ranking mundial -masculino.

Hoje, excepcionalmente, não publicamos a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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