São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fundo exclusivo dribla compulsório

GABRIEL J. DE CARVALHO; MILTON GAMEZ
DA REDAÇÃO

MILTON GAMEZ
Contrariando os princípios da economia, os bancos estão oferecendo aos grandes clientes um fundo que combina rentabilidade elevada e liquidez imediata.
É o chamado "fundo do eu só" -que também dribla a intenção do Banco Central de alongar as aplicações financeiras.
No fundo exclusivo, de renda fixa, apenas uma companhia ou grupo empresarial faz aplicações. O prazo legal para resgate remunerado, nesses fundos, é de 60 dias, mas as empresas fazem saques antes desse prazo sem perder os rendimentos.
"Os fundos exclusivos são uma espécie de carteira administrada. Os bancos podem, com eles, oferecer uma administração sob medida para seus clientes", diz Alfredo Neves Penteado de Moraes, diretor da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento, que administram os fundos).
O "pulo do gato" dos fundos exclusivos é simples. Normalmente, os fundos de investimento financeiro (os FIFs) recebem depósitos de quaisquer clientes, num sistema de condomínio. Quem sacar antes do prazo mínimo perde o rendimento em favor de quem fica. Como as empresas são as únicas cotistas dos fundos exclusivos, no final das contas têm direito à rentabilidade integral da aplicação.
Por terem prazo de 60 dias, os fundos individuais oferecem, ainda, rentabilidade elevada, já que sobre eles não incide o recolhimento compulsório junto ao BC. Nos FIFs de curto prazo (com liquidez imediata), o compulsório é de 40% e, nos de 30 dias, de 5%.
Os compulsórios foram definidos na reformulação dos fundos de investimento em outubro do ano passado, promovida pelo BC para desestimular as aplicações de curto prazo. Seu efeito sobre as aplicações é significativo: o rendimento, que nos fundos de 60 dias chega a 99% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), cai para menos de 50% do CDI nos fundos de curto prazo. O CDI-over projeta 2,34% brutos para este mês.
"O objetivo dos fundos exclusivos não é ter saques antes do prazo, mas se isso acontecer, o cliente não perde o rendimento", diz Antônio Pavão, diretor de mercado aberto do Bradesco.
Maior banco privado do país, o Bradesco administra atualmente 12 fundos individuais, com patrimônio líquido total, no último dia 15, de R$ 366,5 milhões.
É um valor maior do que o do fundo de 30 dias do banco, aberto a todos os clientes, cujo patrimônio líquido é de R$ 255,8 milhões.
Até o final do ano, o banco quer ter pelo menos cem desses fundos.
Segundo Pavão, os fundos exclusivos foram criados para atender empresas com patrimônio elevado e comunicação eletrônica direta com o banco. Neles, as taxas de administração são bem menores, cerca de 0,5% ao mês, contra 5% em média nos fundos normais.
O custo do administrador nos casos de acesso direto é bem menor do que num fundo normal, que atende toda a clientela com os próprios funcionários do banco, explica Pavão.
O fundo individual de maior patrimônio administrado pelo Bradesco era o Sunshine, com quase R$ 100 milhões.
Nesse grupo, a maior rentabilidade bruta acumulada no ano era a do Potengi, com 6,06% até 15 de fevereiro. A rentabilidade do CDI ficou próxima de 4% no mesmo período. Pavão não revela o nome das empresas aplicadoras nesses fundos.
O fundo de curto prazo tradicional do Bradesco, na mesma data, tinha patrimônio líquido de R$ 1,7 bilhão. No total o banco administra R$ 7 bilhões em fundos de investimento.

Texto Anterior: Sindicato discute demissões na Mesbla; Associação lança livro na Alemanha; Antarctica amplia fábrica de Jacarepaguá; Vip lança lavanderia self-service em Campinas
Próximo Texto: Empresa pode fugir do 'leão'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.