São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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D. Paulo pede liberdade para sem-terra presos

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, 74, fez, ontem à tarde, um apelo pela libertação dos líderes dos sem-terra presos no Pontal do Paranapanema (extremo oeste do Estado).
O pedido foi feito na homilia (pregação coloquial do Evangelho) contra as injustiças, durante a missa de abertura da Campanha da Fraternidade na catedral da Sé (centro da capital paulista).
"Aí estão os sem-terra, que lutam por trabalho. Por isso alguns foram colocados na cadeia. Está certo isso?", perguntou o cardeal.
Os 2.500 fiéis presentes responderam: "Não!". Com d. Paulo, entoaram duas vezes, em coro: "Terra para quem nela trabalha".
Havia um pequeno grupo de militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) próximo ao altar, com duas bandeiras da entidade. Uma faixa da Igreja Católica também se referia à questão fundiária: "Terra partilhada, vida garantida".
O cardeal, em entrevista, afirmou já ter feito "recomendações" ao presidente Fernando Henrique Cardoso: "Que favorecesse as pequenas empresas e, sobretudo, que cuidasse da reforma agrária com toda a sua infra-estrutura".
As declarações de d. Paulo vêm de encontro ao tema da campanha "Fraternidade e Política".
O texto-base da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil diz que "os setores politicamente engajados constituem uma pequena minoria em relação ao conjunto das classes empobrecidas". Entre os "setores conscientizados", o texto da CNBB cita os sem-terra.
A Igreja Católica, valendo-se do ano eleitoral, quer difundir em todo o país a participação "constante e eficaz" do cidadão na política, não só em partidos. "Quem não faz política, faz a pior política", disse d. Paulo, que condenou o voto de improviso do eleitor.
Na missa da Sé, foi exibido cartaz com o texto "O Analfabeto Político", do dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956).
Ontem, cerca de 120 sem-terra, acampados no km 22 da rodovia Castelo Branco (SP) em protesto com as prisões, rezaram uma missa de Quarta-Feira de Cinzas.

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