São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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Mellowman mostra o humor do rap francês

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos anos, a França se tornou o segundo mercado consumidor e produtor de rap no mundo, atrás apenas dos EUA.
A explosão do gênero na França coincide com o começo da floração da segunda geração de rappers franceses, grupos como Alliance Ethnik, NTM, Sages Poètes de La Rue ou Mellowman -que acaba de ter seu primeiro CD, "La Voie du Mellow", lançado no Brasil.
Formado por Lee Rick's (o cantor) e por DJ Cool, o Mellowman conquistou a França com o single "Gardez l'Écoute", um dos singles mais vendidos de 94.
Eles representam a ala bem-humorada da geração. Nada de pregar a morte de policiais, eles preferem fazer músicas com letras divertidas ou românticas.
"É preciso aproveitar a vida, estamos aqui de passagem", ri DJ Cool. "Nós temos uma visão positiva da vida", corrobora Lee Rick's.
Eles falaram à Folha por telefone, de Paris.
"Há problemas em toda a parte, existe a miséria, a guerra, a Aids, mas as pessoas não pensam nisso o dia inteiro. Esse não é o cotidiano de cada um", diz o cantor.
O duo busca inspiração no dia-a-dia. "Há também o metrô que você perdeu, uma manhã que pode colocar todo o seu dia de cabeça para baixo por causa de um encontro. Há a pedra que quebra seu pára-brisa porque você estacionou em lugar errado. Isso pode parecer leve para algumas pessoas, mas eu acho isso importante porque pode acontecer todos os dias e com qualquer um", diz o vocalista do grupo.
A visão positiva da vida e a música dançante não significam que eles sejam despolitizados. Nascidos nos subúrbios parisienses, filhos de pais antilhanos, eles têm a experiência de estar à margem da sociedade francesa.
"O rap é um meio um pouco subversivo. Mesmo se alguns acham Mellowman legal, simpático, são dois negros na França que fazem rap. É algo à parte", afirma Lee Rick's.
"Nós não somos reconhecidos pelo mundo cultural francês, pelos grandes cantores ou pelos grandes artistas. Para essas pessoas, nós continuamos pequenos artistas que conseguiram progredir e fazer dinheiro com uma música que elas não conseguem compreender como funciona. Isso continuará sempre assim", continua ele.
Isso explica um pouco a escolha do rap como gênero musical.
"O rap foi definido como uma coisa trágica e violenta. E isso não é verdade. Não é algo trágico e violento, mas algo revolucionário. É uma coisa que vem de baixo em direção ao alto", diz Lee Rick's.
Mas essa visão de mundo não altera o humor do duo.
"Temos uma vida de artista e apreciamos, sobretudo, o fato de poder viver do que a gente faz. Atualmente é um luxo poder viver do que se gosta de fazer", diz o cantor.
Musicalmente, as influências são variadas. "O som do Mellowman mistura rap, jazz, funk, um pouco de salsa, um pouco de música tropical e muito groove", diz Lee Rick's.
Boom
Lee Rick's foi vizinho de MC Sollar, o rapper mais conhecido da França, em Villeneuve Saint-George, um subúrbio no sudeste de Paris.
"Foi ele quem exportou o rap francês", afirma o cantor.
"O rap francês existe há dez anos, mas foi agora que explodiu. E, como nos EUA, há vários estilos diferentes. Há grupos que fazem músicas alegres e outros que preferem as letras agressivas", diz DJ Cool.
"A única diferença entre o rap americano e o francês, hoje, é a língua", afirma ele.

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