São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996 |
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Acapulco é o Guarujá que fala espanhol
FERNANDO COSTA NETTO
É charmosa pela arquitetura que mistura o clássico e o moderno. Há um respeito admirável pela história -mesmo abandonada, a parte antiga da cidade permanece firme sobre os alicerces. As ruas do balneário são limpas. Acapulco é uma locação até estranha para um brasileiro desacostumado com a infra-estrutura e o respeito ao turista. Num bom restaurante da orla, por exemplo, lá pelas imediações da avenida Miguel Alema, um prato de huatinango -um pescado fresco- custa cerca de 70 pesos, algo em torno dos US$ 15. Convém lembrar que em Camburi, no litoral norte de São Paulo, ou em Pitangueiras, no Guarujá (SP), os preços viajam a ritmo de Paris. A faixa da areia na praia de Condessa, onde estão os principais hotéis de Acapulco, é divertidíssima pela deselegância do povo loiro, desacostumado ao sol forte. Os gays são uma marca registrada da praia e vão à loucura com o gingado latino dos "cucarachas". Metidos em trajes primários, se exibem o quanto podem nos jet skis e "paragliders" de aluguel. Enquanto isso, uma categoria vestida de branco e quepe de marinheiro, "los capitanes de la arena", negociam um passeio de barco pelas imediações da praia. Acapulco é um filme de Almodóvar. Caricata, sacana, avermelhada como o chili, com a graça tropical que foi preservada por todos esses anos. Mas onde está a nossa Acapulco? Fazendo uma comparação rasteira, podemos falar que, um pouco pela geografia, outro tanto pela história perdida, o Guarujá se assemelha ao balneário mexicano. Mas há um abismo cultural que separa os dois lugares. O que dizer da perda de identidade das nossas praias cortadas por pequenos rios de esgotos a céu aberto, dos R$ 100 que se gasta num restaurante como o Dalmo's? Não há defesa a fazer da destruição do prédio art déco do Cassino, no centrinho do Guarujá, em plena praia de Pitangueiras, que sucumbiu a pequenos interesses para virar um espaço agora ocupado por uma roda-gigante e um hediondo trem-fantasma. Se fosse materializado num ser humano, o Guarujá seria arrogante como o novo rico sem talento ou como um político que desconhece a preservação. O Guarujá está para Acapulco como Elvis para Xitãozinho e o Pacífico para o Atlântico. Houve um tempo em que os dois balneários viveram seus dias de glória. Mas é preciso guardar as devidas proporções, já que a Acapulco dos anos 50 foi o cenário onde John Kennedy, Brigitte Bardot e Henry Kissinger eram figuras fáceis ao lado de astros como Frank Sinatra, John Wayne, Gary Cooper e Jimmy Stewart. Texto Anterior: Monte Albán é um colírio para o espírito aventureiro Próximo Texto: Comida, bebida e CDs são as melhores pechinchas Índice |
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