São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 1996
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Droga contra câncer é cancerígena, diz OMS

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Uma droga usada no tratamento de câncer nas mamas foi incluída na lista dos produtos "cancerígenos" pela Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo divulgou ontem a Agência Internacional de Pesquisas contra o Câncer, (IARC) ligada à OMS e com sede em Lyon (França).
A droga, chamada tamoxifen, e fabricada pela indústria farmacêutica Zeneca Pharma, é vendida nos EUA com o nome comercial de Nolvadex.
No ano passado, pesquisadores do Centro de Pesquisas Fred Hutchinson, que publicaram estudo na revista do Instituto Nacional do Câncer, concluíram que o tamoxifen consegue evitar que o câncer se espalhe de uma mama a outra.
Segundo Julian Wilborn, especialista da agência de pesquisas, estudos revelaram que a droga aumenta de duas a sete vezes o risco de câncer no endométrio.
O endométrio é a camada que reveste o útero e se desprende durante a menstruação.
"O tamoxifen é muito importante, já que aumenta a expectativa de vida em pacientes com câncer nas mamas", divulgou a Agência Internacional de Pesquisa contra o Câncer.
Mas, segundo a agência, "há, em humanos, evidências suficientes de que a droga aumenta o risco de câncer no útero".
Em nota divulgada ontem, especialistas alertaram que, ainda assim, os benefícios trazidos pela droga são maiores dos que os riscos de câncer uterino, e que as mulheres que já iniciaram tratamento com a droga não devem interrompê-lo.
A IARC reuniu 17 cientistas de oito países para rever estudos que apontavam os riscos potenciais da droga. Em 93, pesquisadores haviam descoberto que o risco de câncer no endométrio causado pelo medicamento era maior do que o previsto inicialmente.
Segundo o diretor do IARC, Paul Kleihues, "o grupo desenvolveu os estudos conforme as normas mais estritas de imparcialidade científica".
O tamoxifen, conhecido há dez anos, é baseado em substância antiestrogênicas; atua bloqueando o estrógeno, hormônio feminino que favorece o câncer nas mamas. Entretanto as substâncias antiestrogênicas favorecem o crescimento do endométrio.
Em 1994, pesquisadores holandeses publicaram estudo na revista médica "The Lancet" que apontava os riscos do tamoxifen.
O medicamento foi criado na década de 60 como anticoncepcional. Dez anos depois, passou a ser usado contra câncer nas mamas.

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