São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 1996
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Mesbla investe no auto-atendimento

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Mesbla, em concordata desde agosto, decidiu mudar o modelo de atendimento das suas 45 lojas espalhadas pelo país para reduzir custos e ser mais competitiva.
Está gastando R$ 5 milhões para demitir 2.000 vendedores comissionados e contratar o mesmo número de empregados com salários mais baixos, informa Alexandre Pagliano, diretor de negócios da Mesbla. A empresa emprega hoje 3.000 pessoas.
A estratégia é introduzir o atendimento do tipo "self-service" nas lojas. Nesse sistema, o próprio cliente se serve, dispensando ajuda de um funcionário.
Para colocar em prática o novo estilo de venda -utilizado pelas grandes redes de comércio de varejo, como C&A e Lojas Americanas- a empresa comprou uma briga com o Sindicato dos Empregados do Comércio em São Paulo.
Rubens Romano, presidente do sindicato, informa que na próxima segunda-feira uma assembléia de funcionários deve aprovar a entrada de um processo na Justiça do Trabalho para evitar as demissões de 120 funcionários da Mesbla em São Paulo.
"Essas dispensas ferem a convenção coletiva de trabalho da categoria", diz Romano.
Para ele, no acordo entre os empregados do comércio e as lojas, não é permitido substituir um funcionário por outro para exercer a mesma função porém pagando um salário inferior.
"É um artifício da empresa substituir um funcionário comissionado por outro com que vai receber salário fixo", diz o sindicalista.
Romano conta que, em média na cidade de São Paulo, um funcionário comissionado chega a ganhar R$ 600 por mês. O piso salarial da categoria, para um empregado que não ganha comissão, é de R$ 240 por mês.
Caixa-repositor
Pagliano diz que um grupo de 800 a 1.000 vendedores será demitido no final deste mês em todas as lojas do país.
"Mas já contratamos número semelhante de pessoas para ocupar a nova função, a qual chamamos de caixa-repositor", afirma o diretor da Mesbla.
Trata-se de um funcionário que acumula duas tarefas: trabalha no caixa e ainda repõe mercadorias nas prateleiras.
"Não podemos transformar os vendedores em caixas porque os primeiros ganham comissão e têm salários mais altos. A lei não permite a redução de salários em carteira."
A empresa, diz ele, não viu outra alternativa senão demitir e contratar. Pagliano diz que a comissão do vendedor é de mais de 1% sobre o faturamento. O caixa-repositor recebe um percentual menor.
"Vamos economizar um caminhão de dinheiro com o novo estilo de venda", diz Pagliano. Nas suas contas, a despesa total da empresa, que representa hoje cerca de 17% do faturamento, deve se reduzir para 15,5%.
Implantado o modelo de auto-serviço nas lojas, continua Pagliano, a Mesbla estará atendendo melhor o cliente e gastando menos.
"Dessa forma estaremos nos ajustando com patamares de rentabilidade aceitáveis", avalia Pagliano.
O novo modelo de venda da Mesbla já está começando a operar nas unidades da loja. Os antigos funcionários, que vestem uniforme ocre, estão sendo trocados pelos novos, que vestem uniforme vermelho.

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