São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 1996 |
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'Antes da Chuva' esconde Bálcãs
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Manchevski trabalhou sobre a associação de dois elementos: um humanismo mais ou menos tradicional e o uso de uma tecnologia de ponta. São dois fatores que tornam seu filme "universal", imediatamente acessível a qualquer público, em qualquer parte do mundo. Em princípio, é uma proposta pertinente. Fazer um filme no fim do mundo, sem que isso mal seja notado. Tirar dele essas características locais que, por vezes, tornam a imagem quase indevassável ao espectador ocidental, por exemplo. Mas tamanha discrição acaba por, de imediato, induzir à dúvida e sugerir outra questão, a saber: quanto de verdade existe na Macedônia endomingada que "Antes da Chuva" nos revela? Um momento, um só, basta para que o espectador desconfiado da inocência das imagens se dê conta de que a verdade é mínima: quando aparece na tela um céu visivelmente produzido pela tecnologia cinematográfica. É olhar esse céu e pôr o pé atrás. Pode-se sempre argumentar que isso é secundário diante da idéia pacifista reivindicada pelo filme. Aí, porém, já estamos por conta da sensibilidade de cada um. Se a imagem não revela sua própria verdade no ato de se fazer -se ela é uma trucagem que produz seu objeto- o que nos embala será sempre a crença num ideal, não o filme. Em última análise essa crença precede e independe das imagens. Ou, em uma frase: dá para amar a paz sem por isso amar "Antes da Chuva". Próximo Texto: 'Jenipapo' chega ao país após sucesso em festivais Índice |
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