São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 1996
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Cortando as gorduras

Uma curiosa e indesejável contradição vem perseguindo a abordagem oficial dos problemas ligados à educação e seus grandes desafios no Brasil. Os candidatos a postos no Executivo não se cansam de prometer que, uma vez eleitos, tratarão a educação como absoluta prioridade de suas gestões. Mas, depois de empossados, as enormes carências do país nessa área acabam sendo muitas vezes colocadas em plano secundário.
Contrariando o vício da retórica pré-eleitoral, uma ampla reforma no sistema de educação pública está sendo executada pelo governo estadual de São Paulo, com fortes efeitos no cotidiano de seus 6,5 milhões de alunos. Alguns de seus princípios merecem destaque, apesar das inevitáveis dificuldades eventualmente implicadas na implementação de certas mudanças.
Um deles diz respeito à necessidade de racionalização dos serviços da rede, que até o ano passado ainda explorava muito mal os recursos humanos e o espaço físico de suas escolas. A partir de 96, muitas classes terão lotação total, e algumas infelizmente estarão até superlotadas. Com isso foi possível desativar 105 das cerca de 6.700 escolas da rede em 95 e inaugurar outras 42 em locais de maior carência. Com essa reorganização, serão dispensados 30 mil professores contratados até o ano passado, muitos dos quais sem formação para lecionar.
Mesmo que certas regiões ainda não disponham de vagas suficientes e que alguma perda de qualidade possa ocorrer em classes cuja lotação foi excedida, o fato é que sem uma boa distribuição dos recursos humanos e materiais a rede não poderá oferecer qualidade e universalidade de ensino no futuro.
Esse poderá ser um dos caminhos para afastar da educação pública o estigma de buraco negro das verbas oficiais e zelar pelo atendimento de uma demanda sempre em expansão.

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