São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Conceição não choraria hoje

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A economista Maria da Conceição da Tavares não entrou no imaginário nacional por ter sido a professora dos pais do Cruzado. Conceição, hoje deputada federal pelo PT do Rio, ficou famosa porque chorou na TV, defendendo o plano e seus ex-alunos.
"Chorei porque foi o primeiro plano que vi que defendia os pobres. Hoje, dificilmente choraria por um plano econômico", diz.
Essa "defesa dos pobres", avalia Conceição, se deu com a melhor distribuição de renda que o plano proporcionou, nos meses em que parou em pé.
O que durou pouco, avalia a professora, por causa das condições das reservas nacionais, que tiveram problemas por falta de financiamento externo.
"Não há dúvida de que o Cruzado era um plano frágil. Mas, diferentemente de outros planos -como o Real-, ele não quebrou a agricultura, a indústria, o sistema bancário."
Falando em Plano Real, Conceição Tavares vê uma "simetria" entre este e o Cruzado.
"O Cruzado foi para o espaço, mas não quebrou o país. Já o Real pode quebrar o país, mas o plano continuará bem."
Um outro lado dessa simetria é que o Real, assim como o Cruzado, pode ser considerado um plano "heterodoxo".
Isso porque o Real não parte dos mecanismos ortodoxos de ajuste da economia, que começa com o ajuste fiscal. O Real optou pela âncora cambial.
"O Cruzado também tinha âncora cambial, o câmbio ficou onde estava. Mas a diferença é que os outros preços também estavam 'ancorados"', diz.
Outro ponto de simetria: os autores dos planos Cruzado e Real -todos economistas da PUC do Rio. Mas todos esses pontos preocupam Conceição.
"Toda essa simetria me deixa com bastante medo", diz.
A diferença entre as duas tentativas de estabilizar a economia brasileira está, segundo Conceição, no grau de abertura da economia, hoje muito maior.
Com isso, o Real tem a desvantagem de estar mais sujeito à especulação.
(LAC)

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