São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 1996
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Caio Fernando Abreu deixa inéditos e projetos

DA REPORTAGEM LOCAL

Entre os projetos deixados pelo escritor Caio Fernando Abreu, que morreu no último domingo, estava o livro de contos "Estranhos e Estrangeiros", uma revisão de "O Ovo Apunhalado", de 1975, para ser relançado pela Companhia das Letras, e "Pequenas Epifanias", uma coletânea das crônicas que escrevia desde 1986, no "Caderno 2" do jornal "O Estado de S. Paulo".
"O que a família decidir sobre os textos que Caio deixou, a editora vai fazer com o maior prazer", disse o editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras. Schwarcz ainda não sabe ao certo quanto o escritor conseguiu concluir dos projetos que tinha.
Abreu morreu aos 47 anos, no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, vítima de insuficiência respiratória. Ele estava internado havia 20 dias, devido a uma pneumonia em decorrência de Aids. Em setembro de 1994, ele declarou em sua crônica semanal que era portador do vírus HIV. Não parou de trabalhar desde então.
No ano passado, fez uma reunião de diversos textos seus que estavam na gaveta, do mais antigo, escrito aos 14 anos, na coletânea "Ovelhas Negras", publicada pela editora Sulina. Também em 1995, a Companhia das Letras republicou "Morangos Mofados".
Caio Fernando Abreu nasceu em 12 de setembro de 1948 em Santiago, no Rio Grande do Sul. Estudioso de astrologia, informava: "sou Virgem, ascendente Escorpião e Lua em Capricórnio".
Publicou seu primeiro conto, "O Príncipe Sapo" em 1966, na revista "Cláudia". Em 1968, mudou para São Paulo e foi trabalhar na primeira equipe da "Veja".
Em 1970, publicou seu primeiro livro de contos, "Inventário do Irremediável", que ganharia uma reedição em 1995, revista pelo autor. Já sabendo que era soropositivo, Abreu se dizia mais otimista e relançou o livro com o título "Inventário do Ir-Remediável", com oito contos a menos e os outros todos alterados.
Foi morar na Europa em 1973 e trabalhou em todo tipo de subemprego, em restaurantes e hotéis. Em 1975, escreveu a peça "Uma Visita ao Fim do Mundo", proibida de ser encenada na época pela Censura Federal.
Escreveu também as peças "O Homem e a Mancha", logo depois de sua primeira internação em hospital devido à Aids, e "Zona Contaminada", também sobre a Aids, montada no Rio em 93.
"Limite Branco", romance que escreveu aos 18 anos, foi publicado em 1971. Em 75, publicou "O Ovo Apunhalado" e dois anos depois, "Pedras de Calcutá", reunião de 21 contos escritos entre 1972 e 1977.
Com "Morangos Mofados", publicado em 1982 na coleção "Cantatas Literárias" da editora Brasiliense, Caio Fernando Abreu conheceu o sucesso de um escritor brasileiro. O que não impediu no entanto que ele sempre precisasse trabalhar como jornalista para poder manter sua atividade literária.
No ano seguinte, lançou "Triângulo das Águas", novelas "baseadas nos arquétipos dos signos de água", segundo o autor.
Passaram-se cinco anos até o escritor lançar seu novo livro de contos, "Os Dragões Não Conhecem o Paraíso".
"Ser esquecido ou não ser esquecido, tanto faz. A posteridade é um tédio", afirmou o escritor Caio Fernando Abreu em entrevista ao jornal "O Globo", em 1990, quando lançou o romance "Onde Andará Dulce Veiga?". Com o subtítulo de "um romance B" o livro usa estruturas do cinema para contar a história do jornalista que procura a cantora Dulce Veiga, desaparecida há 20 anos.

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