São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
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Revista diz que Motta mediou trégua

AZIZ FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

A pedido do presidente Fernando Henrique Cardoso, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, convenceu as direções das emissoras Globo e Record a interromper os ataques que começaram a trocar em agosto do ano passado.
A interferência do Planalto na chamada "guerra santa" -a Record é ligada à Igreja Universal do Reino de Deus- é relatada pelo pastor Nilson Fanini em entrevista à revista "Vinde", da Visão Nacional de Evangelização.
Fanini preside a Aliança Batista Mundial. Na última terça-feira, ele se encontrou com o presidente Bill Clinton em Washington (EUA) e, no próximo dia 12, tem encontro marcado com o presidente de Cuba, Fidel Castro, em Havana.
O "papa" da Igreja Batista afirmou à revista, que começa a circular na próxima semana, ter recebido um telefonema do Planalto. O autor da ligação teria dito que FHC queria uma reunião entre as emissoras para forçar a trégua.
"A pessoa me contou que houve uma ordem direta da Presidência para que se fizesse uma reunião com a diretoria das redes Globo e Record no sentido de forçar uma parada nas denúncias de um lado e de outro, pois estavam indo longe demais. E essa reunião foi realizada", afirmou Fanini.
A reunião entre Motta e as duas emissoras ocorreu em São Paulo, em 3 de janeiro. Motta afirmou no encontro que as emissoras tinham concessão pública, que não deveria ser usada em guerra comercial.
No dia anterior, FHC havia sido criticado pelo pastor Honorilton Gonçalves no programa "25ª Hora", da Record. Gonçalves dissera que FHC estava entre os políticos que pediram pessoalmente aos líderes da Universal apoio nas eleições de 1994. No programa, pastores ameaçaram apoiar partidos de esquerda em eleições futuras.
No dia 4, o bispo Carlos Rodrigues, da Universal, revelou à Folha que a igreja iria "parar com a guerra contra a Globo", porque alguns bispos tinham ficado descontentes com o envolvimento do nome de Fernando Henrique.
Rodrigues disse que, para "esfriar os ânimos", a Universal havia incinerado 200 faixas contra a família Marinho e a Globo.
As faixas seriam usadas nas passeatas dos evangélicos no dia 6 em todo o país. Na passeata do Rio, o pastor Fanini foi lançado candidato à Presidência da República por alguns pastores. Ele negou a intenção de se candidatar.
Fanini, que vendeu suas ações na TV Rio (filiada à Record) a pessoas ligadas à Universal, defende a igreja de Edir Macedo. Segundo ele, a Universal faz um "trabalho fantástico" e "tem direito à liberdade".
Fanini disse à revista "Vinde" que a Universal "tem tirado 6 milhões de pessoas das garras do diabo". Ele atribuiu eventuais irregularidades cometidas por líderes da Universal ao fato de ela ser uma "igreja adolescente".
O pastor afirmou que os evangélicos estão sendo perseguidos. "Quando um deputado católico ou espírita faz umas e outras, nunca se diz que é católico ou espírita. Mas, quando é um evangélico, dizem à qual igreja pertence."
A Folha confirmou a ocorrência da reunião com pessoas da Record, do Ministério das Comunicações e da assessoria de Fanini.
Valter Poyares, assessor do presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, disse que a reunião com Motta "pode ter acontecido", mas que não tinha conhecimento. "O doutor Roberto é um homem conciliador", afirmou.

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