São Paulo, sexta-feira, 1 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Georgia" mostra oposição entre duas faces da América

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Georgia
Produção: EUA, 1995
Direção: Ulu Grosbard
Elenco: Jennifer Jason Leigh, Mare Winningham, Ted Levine
Onde: nos cines Lumière, Arouche A, Cinearte 1 e Morumbi 6

"Georgia" é a história de duas irmãs. A mais velha, Georgia (Mare Winningham), é uma cantora country de sucesso.
Casada, com dois filhos e um terceiro na barriga, ela representa a América-família, sadia e comportada.
A irmã mais nova, Sadie (Jennifer Jason Leigh), é seu avesso: drogada, prostituída, alcoolizada, canta seus roquinhos esganiçados em botecos de quinta categoria. É a América marginalizada, escura, suja e violenta.
O filme expõe o desencontro entre as duas a partir do momento em que Sadie visita Georgia em Seattle e acaba ficando em sua casa, como uma hóspede incômoda.
O problema de "Georgia" é insistir nessa contraposição esquemática entre as duas irmãs e seus modos de vida.
Não há evolução real dos personagens, não há surpresas, não há poesia.
Trilha sonora
É uma balada de uma nota só, em que a própria música é usada de modo repetitivo e sem inspiração: ou são as canções caretas e soporíferas de Georgia, ou são os bons rocks estragados pela interpretação amadora de Sadie.
Os melhores momentos do filme são aqueles em que há alguma interpenetração entre os mundos de Georgia e Sadie.
Entre a família e a sarjeta, em suma. Num deles, Sadie canta a clássica "Walk on the Wild Side", do roqueiro Lou Reed, para o filhinho de Georgia.
Em outro, as duas irmãs dividem o palco de um grande concerto cantando "Take me Back", de Van Morrison.
Jennifer Jason Leigh
E, claro, há Jennifer Jason Leigh. Poucas atrizes se entregam tão completamente a um papel quanto ela. Neste caso, mais do que nunca.
O roteiro, de autoria de sua mãe, Barbara Turner, foi escrito para ela. E a atriz se empenhou de corpo e alma na viabilização do filme.
O que poderia ser um trunfo acaba sendo um problema: ao levar ao paroxismo sua fusão com um personagem semelhante aos que tem vivido na tela (desequilibrada, alcoólatra, insolente), provoca no espectador um desagradável sentimento de repulsa, quando não de piedade.
Em tempo: "Georgia", que custou US$ 10 milhões, era para ser dirigido por Robert Altman.
O diretor de "Nashville" desistiu no meio do caminho e o filme acabou nas mãos do rotineiro Grosbard (de "Amor à Primeira Vista"). Azar do cinema.

Texto Anterior: 'O Nome do Jogo', com Travolta, foge do humor idiotizado
Próximo Texto: Vida não termina com a morte
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.