São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Polícia Militar protege área mais segura

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Militar tem mais homens na região mais segura da cidade e menos na mais violenta.
Em Perdizes, onde ocorreram três homicídios no ano passado, há um policial para cada 11.667 habitantes. No Jardim Ângela e Capão Redondo há um PM para cada grupo de 64.800 moradores. Os moradores do Jardim Ângela lideram o ranking de homicídios no ano passado. Capão Redondo é o campeão como palco de assassinatos.
A taxa de homicídios do Jardim Ângela é 33 vezes maior do que a de Perdizes, mas o número de policiais por habitantes é cinco vezes menor (veja no quadro ao lado a taxa de homicídios dos 96 distritos da cidade). Em Perdizes, o principal tipo de ocorrência registrada é o furto de carros.
Os números de policiais nessas regiões foram fornecidos pelos comandantes do 1º e do 4º Batalhão da Polícia Militar, responsáveis, respectivamente, pelo patrulhamento do Jardim Ângela e de Perdizes.
A cidade de São Paulo tem cerca de 30 mil policiais militares. É baseado nesse número que o governador Mario Covas costuma dizer, orgulhoso, que a cidade tem 1 PM para cada 320 habitantes. O número recomendado pelas Organizações das Nações Unidas é de 1 policial para cada 250 habitantes.
Segundo essa conta, São Paulo estaria numa condição confortável de policiamento. O problema dela é que são contabilizados aí o PM que está dormindo, de folga, o que está de licença médica ou o que foi lotado na burocracia.
A Folha levantou um número diferente -o de policiais que estão efetivamente na rua, em turnos de oito horas. Muitos comandantes também preferem o número real à ficção que contabiliza o policial de pijamas.
Segundo o tenente-coronel Claudio Augusto Xavier, 43, comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar, são alocados dez policias a cada oito horas para patrulhar a região mais violenta da cidade.
A distribuição geográfica dos distritos atendidos pela polícia é diferente da dos distritos municipais dos quais a Folha obteve a taxa de homicídios junto ao Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo).
É por isso que é impossível saber quantos policiais circulam diariamente pelo Jardim Ângela. É porque a mesma companhia atende Jardim Ângela, Capão Redondo, Parque Santo Antônio e um pedaço do Campo Limpo. Ou seja, a situação da região é ainda pior do que sugere o índice de 1 PM para cada 64.800 moradores.
"E esses dez policiais não fazem só policiamento ostensivo. Atendem parturiente e briga de marido e mulher", conta o tenente-coronel Xavier. Segundo ele, o 1º Batalhão da Polícia tem 450 e deveria ter 900.
A Secretaria de Segurança Pública promete zerar esse déficit a partir deste mês. Com mais homens, diz o comandante do 1º BPM, será possível reduzir a criminalidade, mas não se pode esperar "milagres". "A zona sul precisa de mais policiais, mas também precisa de mais escolas, de mais postos de saúde e de um projeto de urbanização", afirma.
O delegado Sérgio Abdalla, do 47º Distrito Policial, diz que resolve o problema por bem menos. "Com 20 investigadores e 10 carros de polícia eu baixo a criminalidade do Jardim Ângela e do Capão Redondo em seis meses", promete.
O lado mais seguro da cidade também reclama mais policiais. "Com 300 homens eu conseguiria reduzir o furto de carros", diz Luiz Nakaharada, 50, comandante do 4º Batalhão.
Ele conta com 120 PMs para cuidar de Perdizes, Barra Funda, Pacaembu, Santa Cecília, Sumaré e Água Branca.
(MCC)

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