São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Homicídios freiam aumento da expectativa de vida de homens

Mulheres vivem mais por se exporem menos à violência

DA REPORTAGEM LOCAL

A violência já está afetando a expectativa de vida dos homens paulistas. O incremento de idade entre 1980 e 1991 foi de 1,57 ano. Entre as mulheres, de 3,22. Desde 1940, é a maior diferença entre homens e mulheres -8,37 anos.
Foram a violência e a Aids, esta em menor escala, que provocaram a diferença e fizeram com que a esperança de vida dos homens crescesse em ritmo menor do que o previsto, segundo pesquisa do demógrafo Carlos Eugênio de Carvalho Ferreira, 49, pesquisador da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).
O motivo é simples: se você é homem, a chance de você ser assassinado é duas vezes maior do que uma mulher. Se tem entre 15 e 39 anos, as chances quadruplicam. "Mulher vive mais porque se expõe menos à violência", afirma Ferreira.
Homens entre 15 e 35 anos, residentes na cidade de São Paulo, perderam, em média 1,66 ano de vida entre 1980 e 1991. Ou seja: em 1991, a esperança de vida masculina poderia ser de 66,53 anos, não de 64,87. No Estado de São Paulo a perda é menor: 0,92 ano.
A violência afeta mais a faixa entre 15 e 35 anos porque é nela que a população fica mais exposta à violência. É também nessa fase que se inicia a vida sexual.
A violência também afetou a faixa etária em que há o menor nível de mortalidade em São Paulo. Era entre os 10 e 14 anos, e agora é de 5 a 9 anos.
Segundo Ferreira, as únicas causas de morte que continuam crescendo são as relacionadas à violência e à Aids. Todas as outras causas estão em queda.
A violência provocou uma regressão no padrão de mortalidade. O risco de morte para pessoas entre 15 e 35 anos em 1991 é similar ao de 1950. A taxa de mortalidade para os paulistanos nessa faixa é de 163,22 por 100 mil habitantes.
"Só que em 1950 se morria de doenças infecciosas, como pneumonia e tuberculose. Em 1990, se morre de tiro ou Aids. Houve um retrocesso de 40 anos", afirma o demógrafo Ferreira.
Até a década de 40, mulheres morriam mais do que homens. A causa eram as complicações decorrentes do parto.
A introdução de antibióticos reduziu esse tipo de morte. Tanto que as mulheres ganharam 9,21 anos entre 1940 e 1950 -o maior ganho registrado desde então.
Na década de 60, segundo o pesquisador, a redução da mortalidade infantil e a urbanização foram responsáveis pelo incremento de idade.
Nos anos 90, houve uma queda acentuada da mortalidade infantil, mas esse avanço teve pouco impacto sobre os homens por causa dos homicídios.
Ferreira diz que os assassinatos já começam a afetar a esperança de vida no interior paulista, principalmente em Santos, Campinas e São José dos Campos.

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