São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Aids 'prende' brasileiros nos EUA

DANIELA FALCÃO e
GILBERTO DIMENSTEIN

DANIELA FALCÃO; GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Serviço médico 'proíbe' volta ao Brasil

A Aids está aprisionando brasileiros em Nova York. Exilados pela doença, não podem voltar ao Brasil. Nem para férias ou um simples fim-de-semana.
Longe da família e dos amigos, impedidos pelo inverno rigoroso de sair às ruas, a maioria tenta compensar a solidão com drogas, religião e -em casos extremos- até com o suicídio.
Eles formam o tecido mais vulnerável entre os cerca de 1 milhão de imigrantes ilegais que entram anualmente nos EUA e os quase 1,5 milhão de brasileiros que vivem clandestinamente ou não no país.
E vêm engrossar os cerca de 235 mil nova-iorquinos que são soropositivos. Estimativas indicam que a cada dia 14 pessoas contraem o HIV em Nova York.
Por ser portadores do HIV (que causa a Aids), conseguem benefícios que, por lei, garantem tratamento médico e psicológico gratuitos, ajuda no aluguel, transporte e alimentação.
Apenas em remédios, gastariam por mês até US$ 10 mil -cem salários mínimos brasileiros-, quantia que jamais poderiam assumir.
Transformados em cobaias humanas voluntárias, recebem, antes da aprovação oficial, as mais modernas drogas contra o vírus.
Para ter acesso a tais benefícios, eles assinam papel em que afirmam não ter condições físicas de deixar os EUA, o que significa que, se cruzarem as fronteiras, não poderão mais voltar.
Entre novembro e fevereiro, o inverno nos EUA, a Folha acompanhou o cotidiano de brasileiros que buscaram refúgio em Nova York, onde se imaginavam protegidos contra preconceito, intolerância e perseguição no trabalho.
Descrentes da medicina pública brasileira, vieram também na esperança de que estariam mais próximos da cura.
Se, de um lado, encontraram mais apoio médico e uma cidade melhor preparada para conviver com portadores do HIV, de outro mergulharam no vírus da solidão, que os faz ver no Brasil um paraíso definitivamente perdido.

LEIA MAIS
sobre Aids nas págs. 3-2 a 3-3

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