São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Consórcio japonês está de olho na Vale do Rio Doce

Grupo Itochu pode coordenar participação do capital japonês

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A Companhia do Vale do Rio Doce, marco da parceria entre o Brasil e o Japão nos anos 60, pode ser, mais de três décadas depois, a porta de entrada de nova era de investimentos japoneses no país.
O presidente mundial da Itochu Corporation, Minoru Murofushi, disse à Folha que seu grupo está estudando participar da privatização da Vale, provavelmente coordenando uma joint-venture (associação de empresas) de grupos japoneses das áreas de siderurgia e comércio exterior (trading companies) com a participação também de instituições financeiras.
Murofushi disse que é cedo para revelar os integrantes do consórcio, bem como os detalhes da proposta, mas foi taxativo: "Estamos interessados e estudando como participar da privatização".
Murofushi falou à Folha na quinta-feira em São Paulo, onde participou da 6ª Reunião Conjunta do Comitê Misto Brasil-Alemanha, como vice-líder da delegação japonesa de 130 empresários.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
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Folha - O grupo Itochu tem interesse na privatização da Vale?
Minoru Murofushi - Sim, estamos interessados. Mas penso que muitas empresas japonesas, da área siderúrgica, outras tradings e bancos, mostram interesse também. Poderemos trabalhar juntos.
Folha - Seria uma joint-venture de empresas de diferentes setores para adquirir uma participação ou o controle da Vale?
Murofushi - Sim. Tudo ainda está em fase de estudos, de coletar informações. Temos agora de aguardar a conclusão do processo de avaliação da empresa e a definição mais clara dos procedimentos.
Folha - Quais os objetivos de sua visita ao Brasil?
Murofushi - Participar, como vice-líder da delegação japonesa à 6ª Reunião Conjunta do Comitê de Cooperação Econômica Brasil-Japão, manter conversações, francas e sinceras, com empresários e autoridades brasileiras. Viemos verificar de perto, com nossos próprios olhos, o andamento do Plano Real e a possibilidade do Brasil ter, de fato, um desenvolvimento contínuo e estável. Sentir na pele a nova fase do Brasil.
Folha - As importações japonesas alcançaram US$ 335,9 bilhões, com um crescimento de 22% sobre o ano anterior. O Brasil respondeu por apenas 1% desse total. Como e quais setores da economia brasileira poderiam aumentar as exportações para o Japão?
Murofushi - O Brasil precisa tornar seus produtos mais competitivos, desonerar as exportações e reduzir o chamado "custo Brasil", o que vem tentando fazer com as reformas para vencer a confusão e estagnação de longos anos.
Quanto aos setores, citaria, em primeiro lugar, aqueles intensivos em recursos naturais, tais como papel e celulose, alumínio, minério de ferro, siderurgia, granito e mármore e alimentos processados.
Uma área de grande potencial de crescimento é a de autopeças. Há neste sentido um programa da Jetro de São Paulo, a agência de comércio exterior do Japão.
Folha - Qual é a perspectiva para os investimentos diretos japoneses no Brasil? Quais seriam as áreas de maior interesse dos empresários japoneses?
Murofushi - Os integrantes da delegação japonesa vão, após cinco dias no Brasil, levar idéias e sugestões para avaliar lá no Japão.
Há, no entanto, alguns setores que interessam muito, tais como papel e celulose, onde o capital japonês participa com 49% na Cenibra, agroindústria, as estatais incluídas no processo de privatização e a área de infra-estrutura, por meio de financiamento do Eximbank japonês, nossa agência de crédito ao comércio exterior, nas áreas de telecomunicações, eletricidade e transporte, por exemplo.
Os investimentos podem ser voltados para o mercado interno brasileiro ou para o Mercosul nos setores de automóveis, eletrodomésticos, áudio e informática.

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