São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Crise atual no país não é inexorável

MARIA CRISTINA CACCIAMALI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A era da informação impõe novos modos de produzir e de organizar o trabalho em nível planetário. Computadores e robôs estão substituindo muitas tarefas exercidas pelos homens e, portanto, nos setores lucrativos da economia, o número de postos de trabalho gerados por unidade de capital empregado tende a ser menor.
Assim, temas como: a realocação do trabalho produtivo, a diminuição do número de horas trabalhadas, a elevação da qualidade dos sistemas educacionais e de capacitação, o aperfeiçoamento dos sistemas de transferência social e o florescimento de atividades não-lucrativas intensivas em trabalho humano e com alcance comunitário, cada vez mais, serão prioritários na agenda política.
A maior parte dos países industrialmente maduros insere-se, com maior ou menor aderência, nessa configuração, embora os resultados sejam moldados por arranjos e instituições nacionais e supranacionais específicos a cada país.
Esta tendência, entretanto, não pode revelar o momento e a qualidade do desenvolvimento econômico e social dos países mais pobres.
Os Estados dos países denominados de novos tigres asiáticos, por exemplo, coordenam uma estratégia de política econômica voltada para a exportação há mais de dez anos. Com isso, mantêm uma elevada taxa de crescimento econômico sustentado, com expansão do emprego, inclusive industrial, e menor desigualdade na distribuição de renda.
A sociedade brasileira, por outro lado, vivencia, desde o início dos anos 90, um quadro em que, ao novo desemprego tecnológico, soma-se a pobreza e o subemprego crônicos de grupos sociais historicamente excluídos dos benefícios do desenvolvimento econômico.
A consequência disto não poderia deixar de se refletir sobre maiores índices de informalidade e de desobediência civil, de violência, de desperdício, de degradação urbana e ambiental e de processos de desagregação social. Esta situação, entretanto, não é inexorável.
A desorganização institucional e econômica, as hiperinflações e a falência financeira do Estado nos anos 80 desviaram a atenção da sociedade, dos partidos políticos e das diferentes administrações federais do fato de que numa sociedade complexa, heterogênea e desigual como a brasileira, o Estado é imprescindível para coordenar e, muitas vezes, conduzir um processo de desenvolvimento econômico sustentado com distribuição de renda.
A reorganização das funções nas diferentes esferas do Estado brasileiro, a descentralização e a parceria na implementação das ações e mudanças de arranjos institucionais que incentivem a distribuição de renda, bem como a ampliação dos mercados internos e externos, são fundamentais para conter o desemprego e a pobreza no país. Este é o grande desafio.

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