São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996 |
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Dólar em baixa gera crise em embaixada
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA A maior concentração de descontentes com o Plano Real está em Brasília, a poucos quilômetros do Palácio do Planalto. Para sorte do governo, eles não votam nas eleições municipais.Os habitantes do Setor de Embaixadas Sul e do loteamento na Asa Norte passam a maior parte do dia em outro país -as embaixadas são territórios estrangeiros-, mas, para sua infelicidade, têm que fazer compras no Brasil. Desde que o Real existe até o mês passado os preços subiram 48,4% segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Os salários dos diplomatas ficaram atrelados ao dólar e não mudaram. Os dólares, que no tempo da inflação alta eram trocados no câmbio negro e permitiam aos diplomatas estrangeiros uma vida de marajá, de repente passaram a valer menos que a moeda local. O embaixador do Egito, Mohamed Abdel-Wahab, recebeu pedidos de transferência de oito diplomatas de seu país que trabalham em Brasília, quase toda a equipe. A adido de imprensa da Venezuela, Mary Forero, conhece seis diplomatas de seu país que conseguiram demover o Ministério das Relações Exteriores da idéia de enviá-los para o Brasil. Não é só o orçamento pessoal dos diplomatas que é afetado pela fraqueza do dólar em tempo de real. As próprias embaixadas estão reduzindo despesas. "Em vez de grandes recepções, estamos optando por coisas mais simples que não exijam a contratação de buffet. Agora, o que oferecemos sai da nossa cozinha", disse Mary. Essa austeridade atinge quase todas as embaixadas, dos países mais pobres aos do G7 -as sete economias mais ricas. O caso mais grave de corte de gastos está na embaixada do Senegal. Ela fechou na virada do ano -os diplomatas foram embora definitivamente. No prédio que ficou para trás, a Polícia Militar instalou um quartel do Batalhão Rio Branco, que tem a incumbência de dar segurança às embaixadas. O corte de despesas inclui a demissão de funcionários brasileiros contratados pelas embaixadas. A embaixada do Gabão tinha três secretárias e decidiu manter apenas uma. A da Venezuela demitiu dez dos 30 funcionários brasileiros. "É difícil conseguir convencer o Ministério das Relações Exteriores do meu país de que o Brasil vive uma situação especial e que precisamos de mais dinheiro", afirmou o embaixador Odoni Ubonnard, do Gabão. Texto Anterior: Congresso discute cidades saudáveis Próximo Texto: Padrão caiu, diz italiano Índice |
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