São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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Família pede escolta para se mudar

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Em janeiro, a família do bancário Roberto, 20, foi obrigada a abandonar a casa própria em que morava havia sete anos, no Capão Redondo, porque criminosos da vizinhança ameaçaram de morte seu irmão, Marcelo.
Depois que a casa de um vizinho foi invadida, eles se mudaram para o interior e colocaram seu sobrado e uma oficina mecânica à venda.
Para fazer a mudança, foram escoltados por dois carros da PM.
Leia a seguir trechos da entrevista de Roberto, concedida com a condição de que os nomes usados sejam fictícios.
(RSc)

Folha - Como começaram as ameaças?
Roberto - Os caras, que são criminosos conhecidos de todo mundo no Jardim Eledy, mandaram dizer para amigos de meu irmão que ele ia morrer, porque estava dando em cima da namorada de um deles.
Sabíamos que eles não eram de brincadeira, então mandamos Marcelo e minha mãe na mesma semana para a praia.
Folha - As ameaças pararam?
Roberto - Não. Logo depois que eles foram para a praia, quatro caras invadiram armados a casa do vizinho, atrás do Marcelo. Era uma quinta-feira, umas 23h30.
Eu e meu pai ouvimos o movimento e fomos para a parte de cima da casa. Ficamos quietos. Não tínhamos o que fazer, porque ninguém lá em casa tem arma.
Os vizinhos disseram que não conheciam o Marcelo e eles foram embora. Depois de um tempo, eu e meu pai abandonamos a casa.
Folha - Vocês foram à polícia?
Roberto - Os vizinhos chamaram a polícia, mas a PM demorou três horas para chegar.
Folha - Quando vocês voltaram?
Roberto - Passamos a sexta e o sábado longe, só com a roupa do corpo. No domingo, voltamos para casa e tiramos os carros da garagem. Na terça, fizemos a mudança.
Durante esses dias, os quatro caras faziam plantão na porta de casa, em uma Brasília. Para mudar, tivemos que chamar a PM, que veio com dois carros e acompanhou a gente até a estrada.
Folha - A polícia quis saber quem estava ameaçando seu irmão?
Roberto - A gente falou do caso, mas disse que não sabia quem era. Teve gente do bairro, gente de bem, que se ofereceu para matar os bandidos. Eles diziam que uma família como a nossa, que morava lá havia anos, não podia ser posta para fora por marginais.
Folha - Vocês pretendem algum dia voltar lá?
Roberto - Nunca mais. Meu pai colocou a oficina mecânica, que era o ganha pão dele, à venda. Nossa casa está para vender. Nesse lugar eu não piso nunca mais.

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