São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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Começa uma nova rodada de fusões

FÁTIMA FERNANDES
CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO

FÁTIMA FERNANDES; CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aumento de 17% no consumo de alimentos no ano passado estimula as multinacionais a comprar mais fábricas brasileiras

Uma nova onda de fusões e aquisições começa a mexer com o mercado de alimentos no país.
Pelo menos quatro empresas familiares das áreas de massas, biscoitos e chocolates estão à venda.
Os negócios devem movimentar US$ 300 milhões, no mínimo, neste ano, segundo cálculos de especialistas. Pilar, com sede em Recife (PE); Biscoitos Aymoré, de Belo Horizonte (MG); Lacta, de São Paulo (SP) e Basilar, de Jaboticabal (SP), são algumas das empresas que podem trocar de comando.
Essas candidatas à venda estão sendo assediadas por grandes grupos multinacionais. São eles: Bunge Brasil, Nabisco, Philip Morris, Nestlé e Canale (da Argentina).
A Companhia de Produtos Pilar, fabricante de massas, biscoitos, margarinas e cafés, com forte presença no mercado nordestino, é uma das empresas que interessam aos grupos estrangeiros. A empresa é constantemente assediada por grupos como Nabisco, Danone e Nestlé.
Pressão
"Quem está namorando a nossa empresa no momento é a Santista Alimentos, do grupo Bunge Brasil", diz José Leonardo Turton, diretor-superintendente.
A Pilar, empresa com mais de cem anos, controlada por quatro famílias, fatura US$ 180 milhões por ano. A Santista não comenta o assunto. "A pressão das múltis é muito forte. Mas, se a oferta for boa, por que não vender?", diz Turton.
Essa também é a opinião de Eldino Zeli, diretor comercial da Basilar Alimentos, fabricante de massas, que recentemente teve parte do capital vendido para a Canale, empresa argentina que pertence ao grupo Socma.
O negócio entre a Basilar e a Canale permite que a empresa argentina entre com seus produtos no Brasil -biscoitos, conservas, molhos, geléias etc.- e a brasileira venda massas na Argentina.
A estratégia da Canale é bem mais ambiciosa. Além de querer ampliar a participação no capital da Basilar, a empresa negocia uma série de aquisições no ramo de massas, informa Dácio Pozzi, vice-presidente. A Canale pretende dobrar para US$ 300 milhões seu faturamento em três anos.
"Namoro"
A Folha apurou que outra empresa atraente para os grandes grupos é a Isabela S/A Produtos Alimentícios, fabricante de massas e biscoitos, de Caxias do Sul (RS).
Com faturamento de US$ 42 milhões em 95, que significou crescimento de 28% em relação a 94, a empresa é uma das líderes no sul.
Orgulhoso por liderar uma empresa que desperta interesse, Moisés Luiz Michelon, presidente da Isabela, garante que não foi procurado por ninguém com proposta de compra.
Também está em fase de "namoro" a negociação entre a Nabisco e a Aymoré, a segunda marca mais consumida no país. A Nabisco quer ampliar sua modesta participação no mercado brasileiro.
Os dados da Nielsen mostram que a Nabisco detém uma parcela inferior a 4% do mercado.
Uma alternativa interessante para ela seria a compra da Aymoré. As negociações estão em fase inicial. A Aymoré prefere não comentar o assunto.
Outra empresa à venda é a Lacta, maior fabricante de chocolates do Brasil. A venda de 60% do seu capital deverá representar um dos maiores negócios no segmento de alimentos neste ano.
Em 95 a Lacta faturou R$ 450 milhões, segundo Álvaro Gonçalves, o novo diretor superintendente da empresa, eleito em janeiro.

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