São Paulo, quarta-feira, 6 de março de 1996
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Grandes selos recusaram os Mamonas

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Se dependesse dos diretores das principais gravadoras do país, os cinco rapazes dos Mamonas Assassinas teriam ficado no anonimato.
Nenhuma companhia fonográfica admite ter tido contato com fitas demonstração quando o grupo era um obscuro quinteto, há um ano.
A Folha apurou, entretanto, que, das seis grandes gravadoras -EMI, WEA, PolyGram, Sony, BMG-Ariola e Som Livre- apenas a Som Livre não recebeu a fita.
A EMI contratou o grupo. Não tanto pela vontade do diretor artístico da gravadora, João Augusto.
O executivo ouviu as duas primeiras músicas da fita demo no carro, enquanto voltava do trabalho. Deixou a fita de lado.
A carreira dos Mamonas não teria estourado se o filho de João Augusto, Rafael, 16, não tivesse ouvido a fita -que começou a ser pirateada no colégio- e convencesse o pai da qualidade da fita.
Não foi a única ironia na carreira do grupo. Atualmente, os Mamonas são idolatrados pelos fãs.
Mas, há sete meses, seus pais tinham que ouvir as reclamações de vizinhos com os ensaios do grupo.
"Quando a gente precisava do apoio e do respeito das pessoas elas nos olhavam com preconceito", reclamou Dinho, em entrevista à Folha, no final do ano passado.
"Fiquei magoado com algumas pessoas que passaram a nos tratar com todo o respeito do mundo porque o que sempre fizemos durante seis anos agora está dando certo."
Nota à imprensa
Em nota à imprensa divulgada ontem à tarde, o presidente da EMI no Brasil, Jozef Govaerts, lamenta o acidente aéreo em que morreram os integrantes dos Mamonas Assassinas.
Ele informa que a gravadora não planeja lançar qualquer novo produto do grupo.
"Não dispomos de material adequado para futuras reproduções", diz o presidente da gravadora EMI no Brasil.
A Folha apurou que alguns shows da banda foram gravados, como o que a banda fez no Metropolitan, no Rio de Janeiro, no início do ano.
Vendagem
As vendas do primeiro e único CD da banda dispararam ontem em São Paulo. A rede Lojas Americanas, que dispunha do disco em promoção, a R$ 13,50, vendeu praticamente todo o estoque. Agora, se vierem mais discos, serão vendidos por preço não promocional.
A unidade das Americanas na rua São Bento (zona central) vendeu só ontem 2 mil unidades. Em lojas de discos tradicionais, com preços entre R$ 18 e R$ 20, o nível de vendas ficou bem abaixo dos milhares, mas bem acima dos dias anteriores ao acidente que matou o grupo.
A Billbox, no Shopping Paulista, não tinha nenhum CD do grupo antes do acidente.
Com a previsível corrida de fãs, encomendou uma remessa de 30 unidades e até o meio-dia de ontem tinha vendido 15.
Na Hi Fi, o estoque de 70 CDs dos Mamonas não deve durar até o final da semana. A loja informa que vendeu, entre segunda-feira e ontem, cerca de 30 CDs do grupo.
Ministro
O ministro da Cultura, Francisco Weffort, enviou um telegrama ao empresário do grupo, Rick Bonadio. Para Weffort, "a música brasileira perde uma singular manifestação de humor irreverente que tanta empatia criou entre o público jovem."
O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, já havia divulgado, anteontem, nota de pesar pela morte dos integrantes do Mamonas Assassinas. Na nota, FHC dizia que seus netos ficaram muito tristes com o desaparecimento do grupo.

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