São Paulo, quinta-feira, 7 de março de 1996
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Torre aceitou rota do avião do Mamonas

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O controlador de vôo da torre do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em Cumbica (SP), respondeu com "afirmativo" ao início da manobra (que se mostrou equivocada) do piloto do avião Learjet PT-LSD, que levava o grupo musical Mamonas Assassinas e que caiu no sábado, matando nove pessoas.
A Folha apurou ontem que a torre realmente recomendou -na arremetida- o contorno à direita (ao sul do aeroporto), após a tentativa fracassada de pouso, por erro na aproximação. Aos erros do piloto, deu-se o "efeito dominó".
Quando o piloto Jorge Luiz Germano Martins insistiu à torre que faria curva à esquerda (ao norte, junto à Serra da Cantareira), a resposta foi afirmativa à intenção do aviador, que tinha 170 horas de vôo no Learjet (o ideal seriam 500).
Houve, na sequência, um pingue-pongue curto entre a torre e o piloto, que é soberano no aparelho e decidiu prosseguir na rota que resultaria em tragédia na serra.
Tanto a torre (que também monitorava dois outros Boeing) como o piloto não seguiram o que manda a carta de aproximação de Cumbica: arremetida a 6.000 pés em linha reta para nova tentativa de pouso.
Segundo Rui Ciarline, diretor do Sindicato dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo (dos controladores), o piloto -ao alegar que tinha "condições visuais"- é soberano. O sindicato prefere esperar o resultado da comissão de investigação.
Até o choque, o avião voou cerca de dois minutos, sem alerta do Controle de Radar. A curva feita pelo avião foi maior do que a normal e, por isso, sobrevoou a serra.
O avião não tinha o GPWS (Ground Proximite Warning System), sistema que aponta a distância do solo em raio amplo, o que permite correções em tempo.
Incomum e menos segura, a curva à esquerda já foi ordenada pela torre em outros vôos. Há espaço para a manobra. Aviões vindos do Rio sempre sobrevoam a serra.
Não há no país simulador de vôo para Learjet e o controle sobre a aviação executiva é precário.
A Aeronáutica descartou o uso de celular durante o pouso, o que pode interferir nos instrumentos e ser fator de queda. Dinho, vocalista do grupo, usou celular às 9h40, cinco minutos após deixar Brasília.
Cada família dos Mamonas deve receber do seguro obrigatório R$ 14.833,34. A Madri Táxi Aéreo não autorizou a Itaú Seguros a pagar.

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