São Paulo, quinta-feira, 7 de março de 1996
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Camargo Corrêa investe na privatização

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Camargo Corrêa, um dos maiores conglomerados do Brasil, se prepara para entrar pesado nas privatizações.
A estratégia começou a ser traçada há cerca de um ano -quando a empresa familiar decidiu se profissionalizar- e será consolidada no próximo dia 18, quando Alcides Tápias assumir formalmente a presidência da empresa.
"Nosso objetivo é dar um bom destino à grande liquidez que o grupo tem", disse Tápias em entrevista a jornalistas na sede da Camargo Corrêa, em São Paulo.
Tápias não dimensionou a sobra de dinheiro em caixa, que está aplicada no mercado financeiro. Mas afirmou ser suficiente para permitir a participação em tantos leilões quanto interessarem à empresa.
Sem pressa
O leque de interesses é amplo. Além da opção óbvia pela área de construção pesada -que é o carro-chefe da Camargo Corrêa-, Tápias citou os setores de concessão de serviços nas estradas, produção e distribuição de energia elétrica e enfatizou o plano para explorar a telefonia celular.
Tápias não se alinha entre os muitos críticos do programa de privatização. Ao contrário, elogiou o processo, que teria o ritmo próprio da democracia. "Se houver precipitação poderia haver uma volta atrás, o que seria desastroso."
A lentidão apontada pelos críticos mais liberais não o impressiona. Se não a justifica, procura compreendê-la e, para tanto, busca um paralelo na Inglaterra, onde, segundo ele, o programa de privatização já dura vinte anos.
O cacife da Camargo Corrêa para participar das privatizações não se esgota na liquidez folgada. O grupo espera poder pagar parte das estatais com o que críticos do programa chamam de "moeda podre".
"Moeda podre" é tudo o que não é dinheiro. No caso, são dívidas a receber de governos estaduais e da União. E não é pouca coisa.
Só o governo federal deve à Camargo Corrêa o equivalente à US$ 130 milhões. Esse dinheiro não será pago diretamente. A empresa só o receberá como parte do pagamento por empresas estatais.
A dívida do governo de São Paulo é maior ainda. São US$ 400 milhões. O esquema acertado com a União deve servir de modelo, mas ainda não foi decidido. A administração fluminense também deve ao grupo (mais US$ 50 milhões).
Se precisar de mais dinheiro para entrar nas privatizações, a Camargo Corrêa não teria dificuldade de alavancagem, acredita Tápias, baseado no porte do grupo, que tem patrimônio de R$ 2,4 bilhões, vendeu no ano passado R$ 1,8 bilhão e emprega 17 mil pessoas.
A idéia é recorrer a empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do Banco Mundial, que têm taxas e prazos compatíveis com investimentos que dão retorno a longo prazo. Tápias não descarta nem abrir o capital do grupo para obter mais recursos, embora considere essa possibilidade remota.
Nome novo
A reestruturação cria a holding Camargo Corrêa S/A, que substituirá a Participações Morro Vermelho, controladora das 28 empresas do conglomerado.
O objetivo foi profissionalizar a Camargo Corrêa que, desde 94, era presidida por Dirce Navarro de Camargo, viúva do fundador do grupo, Sebastião Camargo. Tápias presidirá o conselho de administração que terá como membros os três genros de Camargo.

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