São Paulo, quinta-feira, 7 de março de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
A solidão de Loyola
LUÍS NASSIF Gustavo Loyola entrou no Congresso, na manhã de seu depoimento, tendo ao lado o ministro da Fazenda, Pedro Malan.Embora o convocado fosse Loyola, em nenhum momento Malan afastou-se da sala, deixando claro, de forma firme e discreta, sua solidariedade ao companheiro. No fundo, esta era a cena que os amigos de Loyola imaginavam para o dia do seu depoimento. Seria a contrapartida mínima para o estoicismo de Loyola, de suportar calado acusações de negligência sobre atos que não foram cometidos em sua gestão. Mas o bravo Malan, que dirigiu o BC antes de se tornar o chefe do presidente do BC, permaneceu mudo e calado, para não desviar para si o tiroteio que se abatia sobre Loyola -em função de imprevidências cometidas, entre outros, pelo próprio Malan. Relevem-se acusações de tramóia, cumplicidade ou corrupção. Além de não se sustentarem em nenhuma evidência, desviam a atenção das verdadeiras razões dessa crise: a inapetência gerencial e a falta de vontade política de sucessivos ministros da Fazenda e presidentes do BC. A fraude do Nacional apareceu em outubro. Mas a crise de liquidez do banco era do início de 95. Qual deveria ser o papel do ministro da Fazenda e do presidente do BC ao serem informados de que o terceiro maior banco do país enfrentava crise de liquidez? De imediato enviar ao Nacional uma equipe de auditores para levantar o problema em toda sua extensão. Mas desde quando intelectual foi feito para enfrentar problemas? Se a prevenção de um problema enorme no futuro depender de alguma medida que lhes crie problemas no presente, o futuro a deus pertence. Se a solução de um problema atual gerar problemas muito maiores à frente, o futuro pertence ao sucessor. Política monetária É o que explica a manutenção dessa política monetária estúpida -que, em última instância, está na raiz da instabilidade do setor financeiro. No ano passado, o BC tinha dois problemas emergentes: estancar a fuga de dólares do sistema, após as tentativas da mudança na política cambial, e reduzir o déficit comercial. Para tanto, não vacilou em cortar completamente o crédito na economia, criar o maior passivo público da história, os maiores passivos privados, arrebentar com a agricultura, aumentar o desemprego e bater recordes de falências e concordatas. Tudo em nome de um princípio "científico" extraordinário: "antes errar por excesso do que por insuficiência", como dizia Pérsio Arida, ao implantar essa política. Enquanto milhares de pequenos foram vitimados por essa irracionalidade, o BC, a Fazenda e a mídia chapa-branca mantiveram-se ausentes. Agora, é o peso de centenas de milhares de pequenos cadáveres que ameaça botar a nave mãe a pique. Cria-se então uma catarse coletiva. Esta tem sido, aliás, a marca da mídia. Não se apercebe dos problemas, quando estão sendo gerados -a ponto de classificar como boicote todo alerta. Depois do desastre consumado, explode de surpresa, como se os desastres chegassem soltos e leves pelo ar, como borboletas vadias. Texto Anterior: Desemprego aumenta na Alemanha Próximo Texto: Governo pode criar linhas de crédito com juro menor Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |