São Paulo, quinta-feira, 7 de março de 1996
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Série traz altos e baixos do jazz moderno

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os jazzistas Gerry Mulligan, Chet Baker, Donald Byrd, Grant Green e Earl Klugh são destaques em pacote de cinco CDs da série "The Best of" (EMI), que acaba de chegar às lojas.
No entanto, nem todos os volumes da série fazem jus ao rótulo "The Best of".
Claro que esse não é o caso do CD com o sax barítono de Gerry Mulligan (1927-1996) e o trompete de Chet Baker (1929-1988). Para qualquer fã do jazz moderno, um disco com 15 das históricas gravações dessa dupla é, no mínimo, essencial.
O inovador quarteto (sem piano) de Mulligan, que teve Baker a seu lado por apenas 11 meses, deixou alguns dos mais perfeitos exemplos do "cool jazz".
A faixa "Swinghouse" soa como um protótipo. Melodias sinuosas e contrapontuadas, ritmo contido e sonoridade "clean" compunham o estilo, que nasceu como resposta de músicos brancos ao nervoso e irreverente "bebop" dos anos 40.
Idealizada para o mercado inglês, em 1992, a compilação do trompetista Donald Byrd registra faixas de seus discos gravados no período 1973-1976 -época em que passou a investir pesado nas fusões do jazz com a "soul music" e o funk.
No entanto, o material incluído no CD é um tanto irregular. Em faixas como "Blackbyrd" e "Lanasana's Priestless", o ex-adepto do bebop parecia mais interessado em decalcar o soul de Isaac Hayes, do que propriamente tentar novas fusões musicais.
Teria sido melhor importar o CD "Early Byrd - The Best of the Jazz-Soul Years", também lançado na Inglaterra pela Blue Note, em 1993.
Essa antologia registra as primeiras experiências de Byrd no gênero, bem mais jazzísticas, gravadas entre 1967 e 1972.
Subtitulado "Street Funk & Jazz Grooves", o CD de Grant Green (1931-1979) também deixa de lado os trabalhos mais jazzísticos do guitarrista.
Depois de décadas de um inexplicável ostracismo, esse talentoso músico vem sendo redescoberto pela geração do "acid jazz" e seus DJs.
A idéia da compilação é recuperar as incursões mais dançantes na obra de Green, que entre 1964 e 1972 também aderiu às fusões do jazz com o soul e o funk.
Os fãs da banda britânica Us3 vão reconhecer de imediato a faixa "Sookie Sookie".
O "groove" (levada dançante) irresistível foi sampleado pelos jazz-rappers ingleses, três anos atrás, em seu álbum de estréia.
Já os dois CDs dedicados a Earl Klugh só se explicam pelo caráter apelativo de sua música.
Apesar de notável violonista, Klugh construiu sua carreira justamente sobre a "fusion" eletrificada de Los Angeles, que infestou o cenário do jazz nos anos 70 e 80.
Acompanhado por veteranos do gênero, como Dave Grusin (teclados), Lee Ritenour (guitarra) e o brasileiro Paulinho da Costa (percussão), Klugh comanda intermináveis sessões de música para elevadores e hotéis. Muzak pura.
Não deve ter sido fácil tentar escolher "o melhor" de um estilo musical que se confunde com o que de pior já esteve associado até hoje com o jazz.

Série: The Best of
Artistas: Gerry Mulligan & Chet Baker, Donald Byrd, Grant Green e Earl Klugh (volumes 1 e 2)
Gravadora: EMI
Lançamento: Blue Note/EMI
Quanto: R$ 20,00 (em média, cada CD)

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