São Paulo, quinta-feira, 7 de março de 1996
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CPI investiga presidente do Paraguai

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Congresso paraguaio está investigando denúncias de que o presidente Juan Carlos Wasmosy violou a Constituição ao dar contratos de obras para uma empresa da família, o que pode levar a seu impeachment.
O presidente está em situação político-parlamentar delicada, pela cisão no partido do governo (o Colorado), mas tem o apoio do comandante do Exército, o ambicioso general Lino Oviedo.
O Paraguai está entrando em uma encruzilhada político-institucional que pode desembocar ou no afastamento do presidente ou em um autogolpe, no estilo aplicado no Peru por Alberto Fujimori.
A acusação está sendo examinada por uma "comissão bicameral de investigação", espécie de CPI (comissão parlamentar de inquérito) permanente com membros das duas Casas do Congresso.
Ela diz respeito a contratos de obras viárias entregues a uma empresa e a um consórcio do qual o presidente foi o dono durante muito tempo, até assumir a Presidência, em agosto de 1993.
A empresa Ecomipa continua registrada, conforme documentos em poder da Folha, em nome de sua mulher, Maria Teresa Carrasco de Wasmosy, e de seu irmão, Ernesto Wasmosy.
Os contratos datam de fevereiro e agosto de 1995 e somam pelo menos 3,258 bilhões de guaranis (a moeda paraguaia), o equivalente a cerca de US$ 1,6 milhão.
O valor envolvido é menor do que o tamanho da crise política em que se encontra o presidente.
Ele foi eleito pelo Partido Colorado, que governa o Paraguai desde a independência, no século 19, e foi o suporte para a ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989).
Mas o partido cindiu-se antes mesmo da eleição de Wasmosy. Um grupo considerado saudosista de Stroessner, comandado por Luiz Maria Argaña, disputou a indicação e perdeu, sob suspeita de fraudes praticadas pelos partidários de Wasmosy.
Depois da eleição, a cisão aumentou, com o virtual rompimento entre Wasmosy e seu vice-presidente, Ángel Roberto Ceifart.
Wasmosy também criticou pesadamente o Congresso, em especial a comissão de investigação, acusando-os de chantagear o governo.
Tudo somado, a relativa solidão política do presidente sugere que o processo de impeachment tem fortes chances de avançar.
Mas o afastamento de Wasmosy não interessa ao general Oviedo, em aberta campanha para ser seu sucessor, já que fortaleceria as alas "coloradas" contrárias tanto ao presidente como ao comandante do Exército.

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