São Paulo, quinta-feira, 7 de março de 1996
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CRISE DE ENTUSIASMO

É no mínimo miopia política a tentativa do Partido dos Trabalhadores de apegar-se à questão puramente legal do seu malogrado processo de refiliação, em vez de encará-lo pelo grave aspecto político que tem.
Ao lançar a idéia de refiliação, o que o PT pretendia era mobilizar suas bases, adormecidas após a segunda derrota eleitoral consecutiva de seu maior líder, Luiz Inácio Lula da Silva, na disputa presidencial.
A mobilização fracassou, o que o próprio partido admite. Se os antigos filiados permanecem com esse estatuto, já que a Justiça Eleitoral desconhece a figura da refiliação, isso é o menos importante.
A face politicamente relevante do episódio está dada pelo fato de que um partido que até seus adversários mais ferrenhos apontavam como o único capaz de de fato mobilizar grande número de militantes não o consegue nem sequer para o ato burocrático de assinar uma ficha.
Parece evidente que essa crise de militância é a reprodução, na esquerda brasileira, de um fenômeno universal: o da queda, fortíssima, no interesse pela política.
E torna-se espetacular, no caso do PT, porque os demais partidos jamais tiveram capacidade de mobilização nem sequer próxima à dos petistas.
Seria um exagero dizer, a partir do episódio, que o PT e os demais partidos se nivelaram por baixo. Mas seria cegueira política dos petistas aferrar-se à tese de que não houve desfiliação para tentar mascarar o fato de que tampouco houve refiliação.
No próprio partido já havia queixas pelo fato de o entusiasmo de sua base durante a campanha presidencial de 1994 ter sido inferior ao demonstrado em 1989. Agora, um novo sinal de alarme é emitido.
O PT é um partido importante demais para a democracia brasileira para dar-se ao luxo de esconder-se atrás de um leguleio jurídico em vez de analisar as causas da perda de entusiasmo por parte de sua militância.

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