São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996
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Mulheres lideram procura pela Justiça

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre as cerca de 300 pessoas que todos os dias procuram a Assistência Judiciária, na av. Liberdade, em São Paulo, mais de 80% são mulheres. Na comissão de familiares vítimas da violência policial, da Ordem dos Advogados de São Paulo, 90% dos que participam são mães, avós ou tias.
Em todas as ações, de simples despejo a processos criminais, as mulheres já são maioria entre os reclamantes. "A mulher tem sido um agente ativo na transformação da sociedade nos últimos anos", diz Manuel Alceu Affonso Ferreira, 53, advogado e ex-secretário da Justiça e Defesa da Cidadania.
Muitas dessas "ativistas" estarão participando hoje de eventos que comemoram o Dia Internacional da Mulher. Uma delas é a professora universitária Heloisa Marques Tupiná, 42, que teve seu único filho morto por policiais militares de Cuiabá, Mato Grosso, em 1991.
Heloisa reuniu testemunhas, mobilizou entidades, organizou protestos e escreveu livros e artigos em jornais. Os PMs foram condenados em tempo recorde.
Como Heloisa, Maria Verônica da Silva Alves, 46, teve o filho de 18 anos morto em 92 por policias da Rota, em São Paulo. A principal testemunha morreu em "circunstâncias estranhas" e o processo foi arquivado.
Verônica agora luta para reabrir o caso. Já encontrou pessoas que viram seu filho ser assassinado, mas não têm coragem de depor contra a polícia.
A advogada Margaret de Souza, 44, não parou mais de lutar desde que seu sobrinho Marcos Paulo Coura de Souza foi morto em julho de 94 por policiais do Gate. Marcos, então com 19 anos, voltava do colégio com amigos quando o carro em que estava foi metralhado.
Eliane Gonçalves de Almeida, 29, luta há três anos na Justiça depois que seu filho Diego, de 6 anos, morreu de Aids. Segundo a ação, que deve ser julgada nas próximas semanas, o menino foi infectado numa transfusão de sangue no Hospital Infantil Cândido Fontoura, que pertence ao Estado.
"Uma vitória vai mostrar que a morte de meu filho não foi em vão", diz. "Outras pessoas continuam morrendo por negligência."
Segundo o advogado Jairo Fonseca, da Comissão de Direitos Humanos da OAB, "as mulheres estão cobrando mais Justiça".
Em apenas um dos setores da Procuradoria de Assistência Judiciária, 80% das 1.300 ações em andamento são movidas por mulheres. "Elas se empenham até o final", diz a procuradora Claudia Aparecida Simardi.
No grupo de vítimas da violência policial, as mulheres insistem mesmo nos processos já arquivados. "Elas lutam até conseguir novas provas", diz Eunice Fagundes Sporti, que coordena o grupo.

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