São Paulo, sexta-feira, 8 de março de 1996
Próximo Texto | Índice

Rebeldes tomam um terço de Grozni

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os rebeldes intensificaram a sua ofensiva sobre Grozni, a capital da República Autônoma da Tchetchênia, e conseguiram reconquistar um terço da cidade.
A ação causou pânico em Moscou, que enviou 500 homens à região. Em dezembro de 1994, a Rússia invadiu a Tchetchênia, uma parte do país que declarara independência. A crise na Tchetchênia é o maior fator de desgaste para o presidente russo, Boris Ieltsin, a poucos meses das eleições. Na época da invasão, ele prometeu que a ação duraria apenas alguns dias.
Os separatistas controlam agora os bairros de Zavodskoi, Oktiabriski (ambos na zona oeste) e Staropromislovski (norte). Segundo um oficial russo na região, citado pela agência de notícias "Interfax", os combates se tornaram mais amenos no começo da noite.
Estima-se que haja 1.500 combatentes tchetchenos na cidade, agora -durante todo o dia de ontem, grupos de 30 a 40 rebeldes vinham chegando do interior.
O comando russo trabalha com a hipótese de que eles tentarão, hoje, um ataque a uma emissora de televisão, que já está cercada. Eles também se aproximam da sede do governo pró-russo da região.
Segundo o governo russo, 70 soldados estariam mortos e 40, desaparecidos. Outros 130 estão feri dos. As autoridades pró-russas da Tchetchênia dizem que os rebeldes perderam 130 homens.
Outro oficial russo -que não se identificou- criticou a lentidão de Moscou em enviar reforços e o escasso apoio aéreo. Há registro de deserções entre as tropas oficiais.
Os combates -violentos e corpo-a-corpo, segundo testemunhas- acontecem no dia em que Ieltsin anunciou a criação de um plano de paz para região, que estaria em vigor no final de março.
Ieltsin disse que a ação russa não se encerraria por causa do plano. "A atividade militar precisa ser completada, e aqueles envolvidos em assassinatos e ações terroristas serão trazidos à Justiça." Ele afirmou ainda que suas tropas tinham expulsado os rebeldes da cidade.
A informação de Ieltsin, divulga da na saída de uma reunião com o seu Conselho de Segurança, foi desmentida horas depois pelos próprios comandantes russos. Ele disse que só dará detalhes do seu plano quando a situação estiver controlada -no final de março, segundo seus planos-, mas disse que assinou um decreto dando mais poderes ao Ministério do Interior para combater o terrorismo.
O líder do partido liberal Iabloko, Grigori Iavlinski, acusou Ieltsin de "incapacidade de governar", por causa da crise na Tchetchênia, em uma demonstração dos estragos que a ação causam ao presidente. Estônia A ofensiva rebelde acontece também na semana em que morreu o chefe guerrilheiro Salman Raduiev. Ele era líder do grupo Lobo Solitário e um dos guerrilheiros mais próximos de Djokhar Dudaiev (o líder máximo dos separatistas tchetchenos).
O Parlamento da Estônia, uma das ex-repúblicas soviéticas, enviou um telegrama de condolências a Dudaiev. A atitude é um claro desafio à Rússia, a potência regional. A Estônia foi um dos primeiros países a deixar a União Soviética, e depois não aderiu à Comunidade de Estados Independentes, liderada pelos russos.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia reagiu duramente à manifestação dos parlamentares estonianos. "Essa ação, de um cinismo sem precedentes, sublinha mais uma vez as aspirações reais dos nacionalistas estonianos, que não perdem a chance de demonstrar o seu ódio em relação à Rússia", disse um comunicado.

Próximo Texto: Tchetchenos relaxam e russos se agitam
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.