São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Governo vai denunciar nas eleições os "traidores"

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A assessoria política do presidente Fernando Henrique Cardoso pretende também transformar os parlamentares que votam contra as reformas propostas pelo governo em "traidores do Plano Real".
A estratégia consiste em denunciar à população, durante a campanha para as eleições municipais, todos os deputados dos partidos aliados ao governo que negaram apoio, por exemplo, à reforma do sistema de aposentadorias.
No painel de votação da reforma da Previdência, na última sexta-feira, o governo computou 88 governistas contra a proposta.
O universo de "traidores" ultrapassa a marca de 100 deputados se forem computadas as faltas e abstenções no "dia D" da reforma.
A estratégia governista imita iniciativa do Diap (Departamento intersindical de Assessoria Parlamentar) durante o Congresso constituinte em 87 e 88.
Desde então, essa assessoria aos sindicatos passou a denunciar como "traidores" os parlamentares que votam contra propostas de interesse dos trabalhadores.
A prática do Diap já mudou muitos votos no Congresso, uma vez que os parlamentares costumam medir o efeito de suas posições em suas bases eleitorais.
Os estrategistas do governo calculam que a inflação em baixa e a alta popularidade de FHC serão um importante trunfo que os aliados do Planalto poderão desfrutar nas eleições de outubro nos mais de 5.000 municípios brasileiros.
O prestígio de FHC será transferido aos parlamentares aliados durante as eleições, prevê uma outra parte da estratégia palaciana.
Prevê ainda para os aliados uma "carona" em inaugurações ou atos políticos comandados pelo presidente ou ministros.
A assessoria política do governo reconhece o temor de uma grande parcela dos governistas de sacrificar-se eleitoralmente ao apoiar as propostas do governo.
Embora o Palácio do Planalto tenha encomendado pesquisas de opinião pública que apontam 70% de apoio popular às reformas, segundo informação do líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), o governo concorda em compensar, de alguma forma, os aliados fiéis.
FHC determinou aos ministros e assessores que dêem tratamento diferenciado a esses deputados.
Os "traidores" sofrerão retaliações ao tentar encaminhar novos "pedidos" ao governo.
"Há pessoas que sistematicamente votam contra e pedem o tempo todo", comentou o líder do PSDB, deputado José Aníbal (SP), participante de um jantar no Palácio da Alvorada, anteontem.
"Vai ter de conversar com os caras", resumiu Aníbal da longa reunião com FHC, da qual participaram o ministro Nelson Jobim (Justiça), o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), e o líder do PFL, Inocêncio Oliveira.
No balanço dos problemas enfrentados pela base governista, FHC e seus convidados concluíram que há condições de reverter as defecções nos partidos aliados antes do início da campanha eleitoral.

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