São Paulo, sábado, 9 de março de 1996
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Grito desagrada os argentinos

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

O grito de guerra da torcida argentina durante a partida contra a seleção brasileira não soou bem -até mesmo entre os que esperavam pelo menos um gol mais da equipe de Daniel Passarella.
"Siga, siga, siga o baile ao compasso do tamborim/ Que essa noite vamos foder os negros do Brasil", esbravejava a massa vestida de azul e branco no estádio Mundialista, em Mar del Plata.
"Não foi nada carinhoso", afirmou o cientista político Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos para a Nova Maioria. "É pejorativo e se referiu aos afro-brasileiros", completou.
Na Argentina, o número de negros é ínfimo, nem aparece nas estatísticas. Entretanto, essa palavra é usada para designar -carinhosa ou pejorativamente- os brancos ou mestiços nascidos no interior.
Para brasileiros residentes na Argentina, a canção da torcida mostrou os resíduos racistas da sociedade de Buenos Aires.
"Infelizmente, como acontece em toda a sociedade onde o racismo não foi eliminado, de tempos em tempos aflora a injúria baseada na cor", afirmou o embaixador brasileiro Marcos de Azambuja.
Silas, meio-campista do San Lorenzo de Almagro, ponderou que a canção foi uma maneira de a torcida aprofundar a rivalidade tradicional entre as duas equipes.
"Os torcedores me chamam de negrito Silas, mas com um significado carinhoso. Também se referem a Maradona como negro", completou o jogador que enfrentou várias vezes a seleção argentina vestido com a camisa amarela.

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