São Paulo, domingo, 10 de março de 1996
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Igreja tem a maior rede de rádios do país

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma em cada 16 rádios existentes no Brasil pertence à Igreja Católica. Ao todo, são pelo menos 181 emissoras, espalhadas por 22 Estados e Distrito Federal.
A maior parte das emissoras católicas está nas regiões Sul e Sudeste. São 31 no Rio Grande do Sul, 27 em São Paulo, 26 no Paraná e 22 em Minas Gerais.
O poderio em concessões de rádio da Igreja Católica não tem similar em nenhum dos grandes grupos de comunicação do país.
A rede católica é seis vezes maior do que a da Igreja Universal (cerca de 30 rádios) e nove vezes superior a da Rede Globo (20), do empresário Roberto Marinho.
Ainda para efeito de comparação, os Sirotsky, da RBS (principal grupo de comunicação do Sul), têm 21 emissoras, igual número das concessões de rádio dos Saad, da Rede Bandeirantes.
Concessões de TV
Além das rádios, a igreja tem uma concessão de TV em Pato Branco (afiliada da Manchete), que cobre todo o sudoeste do Paraná; uma TV paga por cabo em Santo Anastácio (SP) e está montando a Redevida, a partir de uma emissora de São José do Rio Preto (SP).
Como as igrejas não podem ser, legalmente, proprietárias de rádios e TVs, as emissoras estão em nome de fundações ligadas às dioceses e às ordens religiosas, ou em nome de empresas constituídas por padres, bispos, frades, etc.
As igrejas não podem ser concessionárias de radiodifusão por força do Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4.117/62). Pela legislação em vigor, o serviço só pode ser explorado pela União, Estados, municípios, territórios, fundações e por empresas.
A Igreja Católica recomenda que suas rádios registradas em nome de empresas de pessoas físicas sejam transferidas para fundações para evitar problemas de sucessão.
A decisão foi tomada porque ocorreram casos de padres que abandonaram a batina e não quiseram abrir mão da concessão que estava em seu nome e de outros que faleceram e suas famílias reivindicaram direito de herança.
Crescimento
O império de rádios da Igreja Católica não pára de crescer. Em maio do ano passado, a Associação Milícia da Imaculada (da Ordem Mariana, dos franciscanos) comprou por R$ 2 milhões a Rádio Mauá, na Grande São Paulo.
No final do 1995, a diocese de Belo Horizonte e os irmãos maristas compraram a Rádio FM 98, na capital mineira, e a diocese de Caicó (RN) comprou a Rádio AM de Parelhas, no Rio Grande do Norte.
Grande parte das concessões de rádios da Igreja Católica foram dadas pelo governo nas décadas de 50 e 60 para incentivar projetos de educação à distância. Isso explica o fato de existirem 18 rádios com o nome de Educadora.
Até dois anos atrás, as rádios católicas funcionavam como células isoladas, mas a igreja mudou sua estratégia e adotou o sistema de rede, com programação nacional, via satélite. A Rede Católica de Rádios (RCR) tem integradas 159 emissoras.
As rádios Aparecida (SP), América (Belo Horizonte, MG), Difusora (Goiânia, GO) e Clube (Curitiba, PR) funcionam como cabeças da rede e são responsáveis por colocar a programação no satélite. A produção jornalística, por exemplo, é gerada pela Rádio Difusora de Goiânia.
Mesmo com a criação da rede, as emissoras da Igreja Católica não formam um corpo único e não obedecem a um comando central, como as de Edir Macedo.
Ao contrário, as ordens religiosas e as dioceses têm autonomia de decisão. "Há uma democracia interna muito grande. Nenhuma emissora está obrigada a transmitir a programação nacional que é colocada no satélite", afirma o padre Cesar Moreira, presidente da RCR.
A ordem dos capuchinhos tem 12 estações de rádio no Rio Grande do Sul e decidiu não se integrar a rede via satélite, porque considera que a programação de suas emissoras deve estar voltada às comunidades locais.
Segundo o frei Wilson da L'Agnol, um dos responsáveis pelo setor de comunicação dos capuchinhos no Sul, a programação nacional via satélite é importante para as emissoras que não têm uma programação própria estruturada.
As rádios gaúchas dos capuchinhos têm o noticiário como ponto forte da programação e cada uma delas possui, no mínimo, seis jornalistas. A maior delas, a Franciscana, de Caxias do Sul, tem 30 jornalistas.
Carismáticos
A Renovação Carismática, um dos movimentos que mais crescem dentro da Igreja Católica, tem sua própria programação via satélite: a Rede Canção Nova, gerada por uma emissora com mesmo nome situada em Cachoeira Paulista, no interior paulista.
A programação é captada do satélite por 11 rádios também dos carismáticos: quatro em São Paulo, duas no Paraná, duas no Rio Grande do Sul, uma em Pernambuco, uma em Minas Gerais e outra no Mato Grosso.

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