São Paulo, domingo, 10 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O pavimento rígido e o 'Custo Brasil'

GERSON SALVADOR PAPA

O tema "Custo Brasil" tem tomado grandes proporções e, após encontros, estudos e palestras, foram detectados os elementos que o compõem. Um deles reside, indubitavelmente, na infra-estrutura do país: energia, telecomunicações e transportes.
Esse último está ligado diretamente à qualidade das estradas, cujos custos operacionais, quando não são de responsabilidade de algum órgão público, recaem sobre os ombros (e bolsos) da sociedade.
As condições das estradas por onde passa o Brasil mostram um diagnóstico alarmante: patrimônio de US$ 150 bilhões em rodovias federais pavimentadas e que precisam ser recuperadas; 66 mil quilômetros de rodovias que precisam de conservação; 20 mil quilômetros que necessitam de restauração; 3.000 quilômetros que estão à espera de pavimentação, implantação e ampliação; estimativa de 1 milhão de buracos.
Só em São Paulo, há 176 acidentes por dia a cada 10 mil veículos. Isso sem falar das perdas socioeconômicas de milhares de toneladas de alimentos em grãos desperdiçados.
Os governantes, em geral, têm se preocupado prioritariamente com o custo do pavimento. O de concreto (ou rígido) é tido como mais caro que o asfáltico, o que nem sempre é verdade.
Principalmente se considerarmos que o pavimento rígido pode chegar a 20 ou 25 anos de vida, quase sem necessidade de manutenção. Os custos posteriores aos iniciais oneram de maneira importante orçamentos futuros, impedindo que novas e importantes obras sejam realizadas.
O preço das mercadorias está associado ao custo do transporte, que é influenciado fortemente pelo custo operacional dos veículos, de manutenções, de operação, de cargas, dentre outros.
Quanto maior for a irregularidade do pavimento, maior será o custo operacional: consumo de combustível; consumo de lubrificantes, desgastes e substituições de peças e acessórios; desgastes de pneus; maior tempo de duração das viagens; necessidade de manutenções mais frequentes etc.
Assim, transporte caro significa feijão caro. Estrada é um serviço e não um produto. Portanto, aos concessionários de rodovias privatizadas, a quem caberá a responsabilidade de administrar e gerir um pavimento durante 20 a 25 anos, obtendo melhores resultado sobre o capital investido e melhores condições de segurança para a população, é recomendável que, antes de se decidirem sobre a pavimentação mais adequada, levem em consideração: a) as diversas alternativas disponíveis no mercado; b) os custos de construção, restauração, manutenção e de operação; c) análises econômicas em que estejam incluídos todos os custos que cabem à empresa e à sociedade; e d) que a implantação de um pavimento inadequado poderá acarretar grandes dificuldades financeiras num momento posterior.
Os números alarmantes denotam que providências urgentes devem ser tomadas. É impossível controlar as chuvas, mas é possível prever suas consequências e minimizar efeitos maléficos.

Texto Anterior: Direito imobiliário tem curso
Próximo Texto: CARTAS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.