São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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Anabolizantes seguros

MANOEL PRATA VIDAL

O uso de promotores de crescimento tornou-se popular no final da década de 50 e, em meados dos anos 60, passou a ser considerado uma técnica para aumentar a produtividade animal em vários países.
Hoje, os cinco promotores mais importantes (estradiol, progesterona, testosterona, acetato de trembolona e zeranol) são usados na fabricação de diversos produtos para a pecuária.
Desde a descoberta de que estes componentes possuíam propriedades promotoras de crescimento, sua segurança e eficácia foram testadas exaustivamente.
A maioria dos países produtores de carne bovina, como Argentina, Austrália e EUA, bem como organizações internacionais, revisou dados científicos e constatou que esses promotores são seguros e eficazes, quando usados de acordo com as indicações.
Com base nas evidências científicas, o FDA (Food and Drug Administration), dos EUA, aceita a tese de que estes promotores não apresentam risco algum ao consumidor e que o serviço de inspeção alimentar (FSIS) não precisa mais controlar rotineiramente a presença destes componentes em tecidos animais.
Os recursos dos FSIS são agora voltados à análise de componentes suspeitos de serem prejudiciais à saúde do homem, como é o caso do DES (dietilestlibestrol).
A União Européia (UE) decidiu ignorar as informações científicas disponíveis e baniu o uso dos promotores de crescimento, proibindo inclusive a importação de carne de países que utilizam estes produtos na pecuária.
Estudo realizado pelo Departamento de Agricultura dos EUA demonstra que a eliminação de promotores de crescimento na produção doméstica representa uma perda anual de até US$ 4 bilhões.
Um estudo similar, feito na Argentina, revelou que a proibição causaria perda de 53,6 milhões de quilos de carne naquele país.
Esses países (e outros) vêm mantendo o uso de promotores de crescimento e se recusam a concordar com a posição da UE.
O Brasil tem exportado 10% de sua produção de carne bovina, principalmente para a UE e os EUA, dois principais protagonistas dessa polêmica.
A regulamentação do uso de anabolizantes na pecuária de corte brasileira tem sido alvo de revisões sistemáticas, as quais, infelizmente, desconsideram o conhecimento científico.
Em fevereiro de 94, a Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária designou uma comissão para estudar o assunto.
Esta comissão, composta por especialistas, avaliou cerca de 220 trabalhos científicos e concluiu que o emprego de anabolizantes pode aumentar o ganho de peso do animal em até 20%, além de reduzir em 10% a quantidade de alimentos necessários para cada quilo de peso ganho.
Também considerou os anabolizantes avaliados como seguros aos animais e ao homem sob o ponto de vista toxicológico.
O Brasil, a exemplo da Argentina, poderia seguramente empregar tais produtos, sem que essa medida afete nossas exportações de carne.

Manuel Eugênio Prata Vidal é médico-veterinário e membro do Conselho Deliberativo Técnico da ABCZ.

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