São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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Descaso na zona leste de S. Paulo

ANA MARTINS

A precária situação do ensino brasileiro acumula décadas de ineficiência dos poderes públicos no financiamento dos serviços essenciais à população.
A ordem de "Washington" aos países não-desenvolvidos é a concentração de seus escassos recursos públicos no financiamento do ensino básico em detrimento do ensino superior.
No início de seu governo o presidente FHC anunciou, como prioridade máxima, a educação. Hoje destina menos de 4% do PIB por ano ao setor, enquanto os países que já têm uma rede educacional estruturada e com crescimento demográfico inferior ao nosso registram gastos de, em média, 7% do PIB por ano. Portanto, as ações do governo desmentem o prometido.
Na esfera estadual o governo apresenta projetos que, além de provocar a redução do ensino fundamental de oito para quatro anos, fecham salas de aulas, atacando o emprego e as condições de trabalho dos 250 mil professores e 50 mil funcionários do setor.
No município, com o objetivo único de beneficiar o projeto do pólo industrial da região, o prefeito, sem discutir com a sociedade civil, faz apologia de outro projeto para 96: construir uma universidade particular no Parque do Carmo (zona leste), que oferecerá 200 vagas pagas, entre elas algumas bolsas de estudo, para um universo de 3,5 milhões de habitantes somente da região leste.
O projeto eleitoreiro de Maluf, além de confrontar-se com as discussões que há muito vêm ocorrendo na região, é muito mais limitado e restrito do que o apresentado pelos movimentos populares e pela intelectualidade, que visa à universidade pública gratuita e de boa qualidade e com serviços integrados com a população.
O Movimento de Luta pela Universidade Pública na Zona Leste já realizou vários seminários, nos quais se reuniram estudantes, professores, lideranças populares e sindicais, para discutirem problemas como a democratização do acesso à universidade pública, novas formas de vestibular, melhoria do ensino público da região e, principalmente, a integração entre a universidade e a população.
A compreensão desse processo resulta no comprometimento da universidade com a transformação socioeconômica da região em que está sendo inserida, contribuindo, por meio do ensino e da pesquisa, para a melhoria da qualidade de vida dessas populações.
Portanto, é preciso que o governo compreenda a forte correlação existente entre o avanço socioeconômico e a universalização do ensino público em todos os níveis.

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