São Paulo, terça-feira, 12 de março de 1996
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Inferno é coisa sem fim

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Ao contrário de Jean-Luc Godard, François Truffaut, Eric Rohmer e Jacques Rivette, a idéia de autoria parece contar muito para ele. O que importa é o trabalho contínuo, filme atrás de filme. Se mantém uma coerência temática e estilística, isso vamos ver depois.
Daí Chabrol ser o mais irregular deles: desde sua estréia, em 1958, alternou o melhor e o pior. "Ciúme" é um bom momento. Menos por narrar a história de um sujeito que sente ciúmes doentios de sua mulher.
Até aí, nada mais lógico: a mulher é a bela Emmanuelle Béart. Mas Chabrol, enquanto se detém na deterioração da relação amorosa, dá uma aula de concisão cinematográfica.
Ao contrário do "Cassino" de Martin Scorsese, por exemplo, não há sobras, nem repetições: o inferno amoroso evolui em círculos aspiralados: tudo é retomado, continuamente, mas as intensidades mudam, de maneira que a monotonia (um perigo tão terrível quanto evidente, no caso) é cuidadosamente driblada.
Se tudo ficasse por aí, estaria bem. Mas Chabrol nos leva a um final surpreendente. Por uma vez, é possível revelá-lo, sem nada tirar da surpresa: trata-se de um final sem final.
Nem mais e nem menos. Numa narrativa clássica, Chabrol introduz esse paradoxo com a desenvoltura de um mestre (que é), mas também com a audácia de um garoto (o que não é: o filme é de 1994, Chabrol já beirava os 65 anos de idade).
"Ciúme" é um filme que se destaca, num dia em que estão programados outros que merecem atenção, como "O Fugitivo" (HB0, 10h), de Andrew Davis, "Depois de Horas" (HBO, 4h30), de Martin Scorsese, e, muito especialmente, "Fugitivos do Inferno" (TNT, 13h), de Raoul Walsh.
(IA)

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