São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 1996
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Reunião discute medidas antiterror

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

ONU, Comissão Européia e mais 27 países fazem hoje, durante quatro horas, a cúpula contra o terrorismo.
Os presidentes Bill Clinton, dos Estados Unidos (o mais poderoso participante), e Hosni Mubarak, do Egito (o anfitrião), deverão divulgar um comunicado final.
A cúpula foi convocada após a série de atentados islâmicos contra Israel, que puseram em risco o plano de paz entre palestinos e israelenses. A principal função da reunião é reavivá-lo.
As negociações entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina, interrompidas no dia 25, durante a onda de atentados que causou cerca de 60 mortes, foram reiniciadas ontem. O premiê de Israel, Shimon Peres, e o presidente da ANP, Iasser Arafat, participam da reunião.
Vários países do Oriente Médio e norte da África mandaram representantes, mostrando o apoio dos árabes ao processo de paz e formando a maioria do plenário.
Síria (que ainda não fez a paz com Israel) e Líbano (uma espécie de "satélite" da Síria) avisaram que não participam da reunião.
O grupo libanês Hizbollah (pró-Irã, que também falta ao encontro) chamou a reunião de "cúpula do mal", mostrando a resistência que os grupos terroristas terão em aceitar as decisões tomadas hoje. Síria, Líbia e Irã são apontados como os principais centros do terrorismo islâmico.
Arafat
O líder palestino Iasser Arafat foi ontem de carro desde a cidade de Gaza, onde está despachando, para o Egito (a poucos quilômetros). De lá iria de avião ao balneário de Charm el Cheikh, no sul da península do Sinai.
A península foi objeto de uma guerra entre Israel e Egito na década de 1950. Nos anos 70, o Egito se tornou o primeiro país da região a firmar a paz com Israel -motivo pelo qual se mostrou habilitado a abrigar a cúpula.
O chanceler de Israel, Yehud Barak, disse, na Jordânia (um dos vizinhos de Israel mais engajados no processo de paz), que a cúpula vai buscar resultados concretos.
"Acreditamos que Charm el Cheikh é importante não só por seu significado político e valor simbólico, mas devido aos mecanismos para garantir o futuro na área."
Israel vai fazer as propostas mais enfáticas, o que já provocou negociações diplomáticas durante todo o dia, ontem. Uma força multinacional antiterrorismo, nos moldes da Interpol, deve ser criada.
Eleições
Peres vai ao encontro de hoje preocupado mais com a política interna do que com a diplomacia.
Os atentados fizeram com que os seus índices de intenção de voto nas pesquisas eleitorais despencassem, em benefício de Binyamin Netanyahu (do Likud, resistente à paz com os palestinos).
Clinton também tem, na cúpula de hoje, uma expectativa eleitoral: ele foi o "padrinho" dos principais acordos entre Arafat e o então premiê Yitzhak Rabin, além de ter mediado a paz na Bósnia.
Sua imagem de pacificador é um dos trunfos para sua reeleição. Após a cúpula no Egito, Clinton faz uma visita-relâmpago a Israel. Deverá se encontrar com Peres, mas também com Netanyahu.
Três partidos de direita em Israel firmaram ontem uma aliança para apoiar Binyamin Netanyahu nas eleições. "É um dia histórico", disse ele ao receber o apoio de seus rivais David Levy (do partido Gesher) e Rafael Eitan (Tzomet).
Segurança
Depois dos países árabes, a maior quantidade de participantes da reunião vem da União Européia. Jacques Chirac, Helmut Kohl e John Major marcam presença.
Alguns líderes pouco envolvidos com a questão do Oriente Médio também comparecem e devem abordar o terrorismo a partir dos problemas de seus países.
O presidente da Rússia, Boris Ieltsin, quer fazer pressão contra os atos terroristas da república separatista da Tchetchênia.
O premiê da Irlanda, John Bruton, deve relatar suas negociações com o Reino Unido para interceder junto aos separatistas irlandeses.
A maioria dos participantes chegou ontem ao balneário e alterou a rotina dos turistas. Para garantir acomodações a todas as comitivas, os hóspedes foram convencidos a deixar o local com viagens para outros pontos de atração.
A maioria vai para a localidade bíblica de monte Sinai. Outros visitarão o complexo histórico de Luxor, junto ao rio Nilo.
Foram instalados detectores de metais e ficou restrito o acesso ao hotel Movenpick. "É divertido, tanta gente e tanta atividade. Mas eles poderiam falar sobre paz sem tanta complicação", opinou a hóspede suíça Madeleine Derivaz.

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