São Paulo, quinta-feira, 14 de março de 1996
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Governo pressiona para mudar parecer

DENISE MADUEÑO
DANIEL BRAMATTI

DENISE MADUEÑO; DANIEL BRAMATTI; MARTA SALOMON; SHIRLEY EMERICK
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Marco Maciel e líderes governistas avaliam que propostas de Temer não deixam claro fim dos privilégios

O governo e partidos aliados pressionaram, e o relator da emenda da Previdência, Michel Temer (PMDB-SP), vai mudar o conteúdo do seu texto.
O objetivo, segundo os governistas, é deixar claro o ataque aos privilégios. As aposentadorias especiais e dos servidores são os alvos.
O líder do PSDB, José Aníbal (SP), disse que os deputados de seu partido consideraram "tímida" a proposta de Temer. "Eles temem que, depois de todo esse esforço, a montanha venha a parir um rato."
Ontem, os governistas discutiram uma saída para a reforma com o presidente interino, Marco Maciel, o ministro Reinhold Stephanes (Previdência) e o secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge.
A determinação do governo é tentar incluir no projeto do relator dispositivos que atinjam as aposentadorias especiais.
"O projeto tem de sinalizar a morte imediata dos privilégios. Se não acabar com eles, não atende à opinião pública", afirmou o líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP).
Versões
A Folha obteve duas versões preliminares do projeto, que foram analisadas pelos líderes. Ambas foram consideradas ineficientes para por fim aos privilégios.
Temer foi criticado na reunião com Maciel. Os líderes consideraram que o relator foi precipitado ao explicar alguns pontos de seu parecer em entrevista anteontem.
"A repercussão foi uma catástrofe", disse o vice-líder do PMDB Geddel Vieira Lima (BA).
A proposta de Temer adiava por dois anos as mudanças nas regras das aposentadorias dos servidores públicos, que seriam definidas por lei complementar.
Os líderes querem, pelo menos, uma mudança imediata para esse caso: que os servidores tenham de permanecer por cinco anos na função para ter o direito de se aposentar com o último salário.
Sindicalistas
Além dos próprios parlamentares, os governistas ouviram reclamações de sindicalistas. O presidente da Força Sindical, Luiz Antônio de Medeiros, esteve ontem no Congresso e ameaçou fazer campanha contra o projeto.
O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, mandou os jornalistas consultar a Bíblia (Eclesiastes, capítulo 3) ao justificar seu silêncio: "Há um tempo de estar calado e um tempo de falar", diz o trecho.
Na tentativa de evitar questionamentos jurídicos ao seu projeto, Michel Temer se encontrou ontem com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Sepúlveda Pertence.
O Judiciário foi um dos principais opositores da reforma devido à ameaça do fim das aposentadorias especiais para juízes.
No Senado, a proposta de Temer também provocou reações negativas. O senador Roberto Freire (PPS-PE) quer que a Casa elabore um projeto alternativo.

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