São Paulo, quinta-feira, 14 de março de 1996
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Cineasta Kieslowski morre aos 54

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Kieslowski sempre foi surpreendente. Apareceu em um Festival de Roterdã, nos anos 80, com o seu célebre "Decálogo".
Na época, não se esperava que o cinema polonês produzisse um nome com expressão internacional, como Andrzej Wajda ou Roman Polanski. Mesmo na Polônia, seu trabalho era pouco conhecido.
"Decálogo" era uma série em dez episódios feita para a TV, que interpretava os Dez Mandamentos. Os mais bem-sucedidos foram desdobrados em longas ("Não Amarás" e "Não Matarás").
"Não Matarás" ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes, em maio de 1988. Em setembro, "Não Amarás" ganhou o mesmo prêmio em San Sebastian.
Foi a senha para a consagração imediata do cineasta, que trabalhou em cinema desde 1957, mas só se lançou na direção após cursar a escola de cinema de Lodz (onde fez três exames, antes de entrar).
A partir dos anos 70, segue-se uma fase dedicada ao documentário e desconhecida entre nós.
Nos anos 80, optou pelo cinema de ficção. "A vida privada está fechada para o documentário", disse. "Ela só é privada se a câmera não estiver lá."
Essa conclusão partiu, inclusive, de experiências com a polícia polonesa, que confiscou o material de seu filme "Trabalhadores 71".
A experiência no documentário é, no entanto, presente em seus filmes de ficção, que têm como fundamento a observação do real.
Se o abandono do cinema político e a repercussão do "Decálogo" foram surpreendentes, a ida para o exterior -como Wajda e Polanski- também. Na França fez, em 91, "A Dupla Vida de Véronique".
Em seguida, rodou a trilogia sobre as cores da bandeira francesa: "A Liberdade É Azul", "A Igualdade É Branca", "A Fraternidade É Vermelha". Espantou a todos ao dizer que, depois deles, não queria mais fazer cinema: achava o trabalho muito desgastante. Queria apenas descansar.
Kieslowski havia sido hospitalizado em agosto de 95 com problemas cardíacos. Desde então, vivia em repouso. Na véspera de sua morte havia sofrido operação para implantar uma ponte de safena. A operação foi bem. Kieslowski não resistiu ao infarto que se seguiu e morreu às 7h (hora de Brasília).

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